Falta de chuva já ameaça produtividade da soja em Venâncio Aires

-

Produtores de soja também relatam falta de vigor nas sementes e solo ‘empobrecido’ após excesso de umidade em 2024.

As consequências do evento climático de 2024, causadas por grandes volumes de chuva, são sentidas até agora na agricultura gaúcha. Talvez pela sociedade ainda precisar lidar com problemas daquele período, a ideia de uma possível escassez hídrica, tão rápida, nem passava pela cabeça. Mas, fato é que, oito meses depois, o verão tem sido de pouca chuva e, quando ela vem, é irregular. Com isso, já existe uma preocupação em torno de algumas culturas e, em Venâncio Aires, a soja é uma das que já têm a produtividade em xeque na safra 2024/25.

Os riscos de uma quebra já dão sinais nas lavouras: plantas no mesmo estágio de crescimento, mas com tamanhos diferentes, e alguns ‘buracos’, ou seja, pode até ter tido germinação, mas muitos pés não vingaram. O produtor Miguel Sérgio Beppler, 64 anos, morador de Linha Herval, é um dos que estão preocupados. “As perspectivas não são boas, já temos estiagem em alguns lugares, porque as últimas chuvas, na maioria das localidades, não ocorreram. A previsão não é interessante e estamos bastante apreensivos em relação à soja. As lavouras já em florescimento estão prejudicadas na produtividade e essa soja plantada mais tarde vai se segurando, mas não sei até quando. Precisamos de chuvas mais regulares nos próximos dois meses.”

Outros fatores

Além da falta de chuva, o agricultor menciona outros fatores que vêm prejudicando a safra da soja 2024/25. “Houve problemas na germinação. Se fala em fungo de solo, em semente com menos vigor. Aí teve o excesso de chuva ano passado, que empobreceu o solo. Precisa urgentemente de correção, encaminhamos alguma coisa, mas nem tudo se resolve em um ano. Vai levar muitos anos para deixar a terra em condições de novo.”

Na atual safra, Miguel Beppler manteve os 46 hectares de soja plantados no ciclo anterior e, se o clima colaborar, a melhor perspectiva seria chegar a 60 sacas por hectare (165 mil quilos totais). “Mas, se continuar assim, não produz a metade”, alerta o agricultor. Beppler já sabe que terá quebra, porque dois terços das sementes foram perdidas. “Plantamos 12,5 sementes por metro linear, mas só se desenvolveram 4,5. Pode ter germinado, mas pereceram devido a alguma adversidade no solo.”

O agricultor de Linha Herval também mencionou o preço. “O custo de produção esse ano diminuiu cerca de 1%, mas hoje se recebe uma média de R$ 128 por saca. O ideal é ficar entre R$ 150 e R$ 160, se quisermos uma pequena margem de lucratividade.”

‘Buracos’ nas lavouras de soja são consequências de problemas na germinação e escassez hídrica (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Difícil para recuperar

Em Linha Mangueirão, onde planta soja há 40 anos, Clóvis Hanemann, 62, relatou as mesmas dificuldades do agricultor de Linha Herval. Hanemann plantou 250 hectares (somando áreas em Mangueirão, Picada Nova e General Câmara). São 40 hectares a mais que o ciclo anterior porque, segundo ele, o objetivo era recuperar o prejuízo do ano passado, quando perdeu metade da soja.

“Está faltando vigor nas sementes, porque ano passado não foram colhidas nas condições ideias e o solo está muito compactado. E agora a preocupação é com falta de chuva e já percebemos estresse hídrico nas plantas por falta de água. Se não chover regularmente até o dia 20 de janeiro, vai ser difícil recuperar”, projeta o produtor.

Emater estima entre 21 mil e 24 mil toneladas de soja

Segundo a Emater de Venâncio Aires, a safra de soja no município pode chegar a 24,4 mil toneladas. Seria um recorde no município, mas, para isso acontecer, é necessária uma produtividade de 3,6 mil quilos por hectare nos 6,8 mil hectares plantados. No entanto, a produtividade deve ficar aquém, em cerca de 3,2 mil quilos por hectare. “O melhor cenário considera condições de chuvas normais. Mas já tem plantas com deficiência hídrica, estão mostrando folhas dobradas, se protegendo para não perder tanta água. Então, a expectativa depende de como vai se comportar o clima”, avalia o chefe do escritório local da Emater, Vicente Fin.

Segundo ele, cerca de 85% da soja foi plantada até 20 de dezembro. Ele explica que houve a necessidade de alguns replantios em função da umidade excessiva em certo momento e depois pela falta de água, já que a chuva não foi uniforme. “E tem a qualidade de semente, que está baixa. Solos antes encharcados agora têm deficiência, então há uma tendência de perda de produtividade em função da falta de água regular. A previsão que se apresenta é de próximos dias sem chuva e, conforme vai passando o tempo, vai se perdendo produtividade.”

53% – foi a quebra na soja na safra 2023/24 em Venâncio, conforme a Emater. O percentual considera a projeção inicial – eram 23 mil toneladas, mas colhidas apenas 10,7 mil toneladas. Devido às chuvas de abril e maio do ano passado, foram colhidos 3,5 mil hectares dos 6,8 mil plantados.

Em maio de 2024, a enchente e o excesso de chuva fizeram apodrecer a soja em muitas lavouras de Venâncio. O registro é de uma propriedade em Vila Estância Nova (Foto: Arquivo pessoal)

Produção de soja em Venâncio

  • 2021/22 – 6,3 mil hectares plantados – 22,68 mil toneladas colhidas
  • 2022/23 – 6,45 mil hectares plantados – 19,35 mil toneladas colhidas
  • 2023/24 – 6,8 mil hectares plantados – 10,7 mil toneladas colhidas
  • 2024/25 – 6,8 mil hectares plantados – entre 21,7 mil e 24,4 mil toneladas colhidas (projeção)

325 – é o número de famílias que cultivam soja em Venâncio Aires, de acordo com a Emater.

Além da soja, a escassez hídrica já é sentida em outra cultura. Segundo a Emater, falta umidade para o plantio do milho safrinha, aquele que é plantado na resteva do tabaco.

Soja no estado

  • Em dezembro passado, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou a projeção da safra de grãos 2024/25. No caso da soja, a Conab prevê, para o Rio Grande do Sul, uma recuperação de produtividade da cultura.
  • O volume esperado é de 20,34 milhões de toneladas, um aumento de 3,5%. A área cultivada deve ter elevação de 1,1%, chegando a 6,84 milhões de hectares. O Rio Grande do Sul é o terceiro estado que mais produz soja, atrás do Mato Grosso e do Paraná.


Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

Clique Aqui para ver o autor

Oferecido por Taboola

    

Destaques

Últimas

Exclusivo Assinantes

Template being used: /bitnami/wordpress/wp-content/plugins/td-cloud-library/wp_templates/tdb_view_single.php
error: Conteúdo protegido