Em outros tempos, fabricar o polvilho azedo artesanalmente era tarefa comum nas pequenas propriedades rurais de Venâncio Aires, mas, atualmente, chamam atenção as famílias que ainda realizam esse processo. No início de julho, Rosa Maria Leonhart, 49 anos, postou nas redes sociais que a família estava preparando polvilho. A publicação rendeu inúmeros questionamentos e a reportagem da Folha do Mate foi conferir de perto a produção.
Rosa, o marido Milton Luis Leonhart, 53 anos, e a filha Paola, 17 anos, moram na localidade de Linha Estância São José. “Quando éramos crianças era normal fazer o próprio polvilho, tínhamos cochos enormes de madeira e ajudávamos nossos pais e avôs”, relembra o agricultor.
Quando se casaram, Rosa e Milton ainda fizeram o polvilho em algumas vezes. O filho mais velho, Pablo Felipe, 28 anos, até viu o processo, “mas a mana não sabia como se fazia”, conta Rosa. Com o trabalho na produção de tabaco, alguns hábitos começaram a ser esquecidos. “A gente tinha que começar e trabalhar bastante, não sobrava muito tempo. Esses dias a gente comentou que poderia fazer, surgiu a ideia e, como já fazia uns 20 anos que não havíamos feito, colocamos a mão na massa”, comenta Milton.
No dia 2, Milton e Rosa mostraram para a filha mais nova todo o processo. “A gente está acostumado a ir ao mercado e comprar o polvilho, mas na verdade é tão fácil de fazer e muito mais saudável. Eu adorei a ideia”, salienta a jovem, que está cursando o 3º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Adelina Isabela Konzen. “Foi uma experiência interessante, uma oportunidade de resgatar um costume da minha família antigamente”, cita a jovem.
O polvilho é muito utilizado pela família para a fabricação de roscas, broas e pão de queijo. Segundo a agricultora, o polvilho que seca no sol ao invés de secar na indústria é fundamental para a produção de roscas grandes e saborosas.
A ideia de fabricar o polvilho era para ensinar os filhos e relembrar a tradição. Mas Leonhart e Rosa se empolgaram tanto que pretendem seguir fazendo. “É muito bom de comer e é mais uma coisa que a gente deixa de comprar e produz mesmo. A gente foi ensinado assim, a plantar nosso alimento, e resgatar tradições é algo bacana”, enaltece.
900 gramas
é o valor aproximado do rendimento de polvilho por pé de aipim da variedade rabanete.
Preparo do polvilho
- Segundo Leonhart, para fazer o polvilho, após colher o aipim, é necessário tirar a sujeira e a casca marrom. “Não precisa descascar o aipim. Só raspar”, esclarece.
- Após, a família utiliza o triturador de milho para moer o aipim.
- Depois, é necessário lavar o produto. “Usamos um saco de pano, são os aconselháveis. E na vasilha com água vamos lavando”, detalha Rosa.
- Segundo Rosa, o que fica no saco, sobra, e o que fica na vasilha é o polvilho. “Parece um leite. É bem aguado. Não se vê o polvilho.”
- O conselho é deixar esse líquido parado de um dia para o outro para o polvilho ‘sentar’.
- Nesse momento, o produto está quase pronto, mas antes falta uma das partes mais importantes: a secagem. “A gente abre ele com o rolo de massa e deixa secar no sol de quatro a cinco dias. Depois é só guardar e usar.” Devido à cerração na parte da manhã, nos últimos dias, o processo de secagem do polvilho pode durar mais dias.
- Após bem seco, é só armazenar em potes, o cheiro forte espanta traças e bichinhos que possam invadir alimentos.
- A família Leonhart utilizou o aipim rabanete para a fabricação do polvilho e o rendimento foi satisfatório.
“É um produto simples, mas diferenciado, pois é natural e algo que a gente fez. É algo muito fácil de fazer e a fabricação do polvilho é mais uma das tradições que estão sendo esquecidas no interior, e isso era tão comum antigamente.”
ROSA LEONHART
Produtora rural
