Enquanto a pandemia do coronavírus exige que a população permaneça em quarentena, no interior a lida rural vai seguindo os ciclos e com a troca de estações novas tarefas precisam ser executadas. Em Venâncio Aires, na divisa das localidades de Linha Canto do Cedro e Linha Tangerinas, a família de Adelmo Lucini, 55 anos, já se dedica para uma nova safra de tabaco.
Ele, ao lado do filho Fernando Lucini, 23 anos, iniciou, na última semana, a semeadura nas bandejas. Já são três canteiros, dos cinco, que receberam as sementes do tabaco mais cedo, como explica Fernando. “Aqui a gente costuma plantar o fumo bem cedo, porque depois, em dezembro, a gente quer finalizar a colheita.”
A técnica adotada pela família é de anos. Adelmo explica que todo ano o tabaco é semeado na primeira quinzena de abril, com 60 dias a muda já vai para lavoura, sendo assim, a colheita é finalizada em dezembro. “O clima está mudando a cada ano. O sol de dezembro queima muito a folha. E no final, o que sobra na lavoura é o fumo bom, por isso, temos essa precaução de se antecipar e não perder na qualidade. E tem dado certo”, comemora.
Outro fator interessante, destacado por Fernando, é que a família procura se organizar para plantar o tabaco em junho. “É um fumo cedo, mas nós gostamos de plantar nessa época, aqui é melhor. Quanto antes melhor. A gente foge da seca e do calor extremo”, reforça.
Conforme Fernando, nesta safra a família irá plantar 120 mil pés de fumo. Dez mil a mais que na safra passada. Aliás, safra essa que ainda está ‘guardada’ nos galpões. De acordo com a família, cerca de 10% do tabaco ainda não foi comercializado devido à paralisação das indústrias tabacaleiras nos últimos dias.

IRRIGAÇÃO
Uma propriedade moderna e adepta às novas tecnologias. É assim que se pode definir os 12 hectares dos Lucini. Para garantir a qualidade e o desenvolvimento das culturas, a família utiliza a irrigação para o milho e o tabaco. São cinco açudes que garantem água o ano todo. “São dois hectares de água na propriedade. Negou chuva, a gente instala os equipamentos e está irrigando. Esse ano a gente não teve prejuízos no milho. Mas aqui não choveu. A irrigação é o nosso ouro da propriedade”, conta Fernando.
CUIDADOS COM A TERRA
Com diversos cursos que explicam e ensinam técnicas aos produtores, além dos conhecimentos adquiridos ao longo dos anos, a família participa de ações da empresa integradora. Por se tratar de um sistema integrado com a Phillip Morris Brasil, a cada período são realizadas análises e uma seleção do tabaco em cada estágio.
Além disso, técnicas para preservar e auxiliar no crescimento da muda de tabaco são observadas. Ao redor dos canteiros, uma lavoura de cana de açúcar protege do vento minuano. A família também explica que hoje os sacos de adubos e fertilizantes são adquiridos em materiais biodegradáveis. “Não é porque a gente planta o tabaco que não nos preocupamos com a sustentabilidade. Hoje os sacos não são mais de plástico, e sim de um material que se deteriora em uma semana no meio ambiente e vira adubo”, explica Fernando.
A família Lucini também faz o uso de técnicas para a correção do solo e adubação verde. “A gente planta um pouco de milho para o consumo na entressafra. Mas no restante é crotalária e milheto. Isso dá um nitrogênio na terra que auxilia na qualidade do tabaco. A terra precisa de cuidado, precisa ser uma terra ‘gorda’, corrigida e a gente faz isso com baixo custo. Não precisa de adubo químico,” esclarece Adelmo.
“A tua safra começa aqui no canteiro. Ela precisa sair boa e bonita daqui. Se não, lá na lavoura ela não terá força para se desenvolver e crescer. Daí, o tabaco não terá qualidade. Não será uma safra boa.”
ADELMO LUCINI – Produtor de tabaco
AFUBRA RECOMENDA ATENÇÃO
- O gerente técnico da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Paulo Vicente Ogliari, ressalta que a tendência é que neste ano o produtor, por instinto, antecipe a safra. “No ano passado plantei tarde e perdi com a estiagem. Esse ano planto antes”, analisa.
- Na região de baixa de Venâncio Aires, Ogliari reforça que é normal preparar o canteiro e fazer a semeadura nesta época. “Essa parte baixa da região dos Vales sempre planta mais cedo, é tradição.”
- “Mas cabe sempre aquele alerta. Existe o risco da geada durante o transplante. Mas tem benefícios, pois o produtor colhe mais cedo, e com isso as folhas do alto do pé não irão queimar. E antes mesmo do forte do verão, todo o seu tabaco estará dentro do paiol, armazenado.”
- Entretanto, existe uma preocupação com a falta de água. Muitas localidades enfrentam problemas severos com a estiagem. As mudas precisam de água constantemente. “Precisa ter o controle, não pode relaxar e deixar faltar água na piscina. As mudinhas precisam da água para germinar”, reforça o gerente técnico da Afubra.
- Outra preocupação é com a geada. Caso ela venha mais cedo, Ogliari aconselha tomar cuidado com a lâmina que não pode ser muito fina.
- Além disso, a Afubra aconselha que o produtor faça apenas a manutenção da área. “Cabe ao produtor ver a necessidade da família. Mas plantar de mais não é o aconselhado. Sugerimos que se reduza na plantação ou no mínimo se faça a manutenção da área.”