Ao longo dos anos, inúmeras profissões e atividades foram se ‘perdendo’, com o desinteresse dos jovens pelas atividades. Além disso, com a tecnologia e a utilização de implementos agrícolas sofisticados, muitas ferramentas foram ficando de lado.
Antigamente, era comum encontrar, em cada comunidade, profissionais como marceneiros e serralheiros, entre tantos outros. Em geral, onde essas atividades ainda persistem, são realizadas por gerações subsequentes das que iniciaram o trabalho e dificilmente um jovem está à frente do negócio.
Guilherme Augusto Wehner, 20 anos, no entanto, está na contramão desta estatística. Segundo a família, desde a infância ele mostrava que ele teria muita habilidade com ferramentas. “Meus brinquedos favoritos eram prego e martelo”, relembra o jovem.
A mãe, Janice Wehner, 38 anos, lembra que o filho não costumava ficar muito dentro de casa. “Se ele tinha uma tábua e uns pregos, estava contente. Essa era a brincadeira dele”. O pai, Luis Adalberto Wehner, 44 anos, comenta que Guilherme nunca foi uma criança que ficava quieta dentro de casa. “Ele não sentava para olhar TV, e quando ele sumia, era só procurar no galpão. Lá ele passava horas”, relembra.
Morador de Centro Linha Brasil, na divisa com Linha Esperança, Guilherme começou aos 13 anos fabricando gaiolas de passarinhos que vendia para amigos, conhecidos e vizinhos. “Eu ia na aula e meio turno fazia as gaiolas. Mas isso era mais uma brincadeira do que um negócio”, conta ele, que foi incentivado pelo padrinho Anderson.

Ao longo dos anos, o rapaz começou a demonstrar interesse na atividade e começou a elaborar outros itens de madeira. “Comecei com ferramentas básicas para me defender, basicamente uma furadeira, lixadeira e a serra circular. Depois adquiri mais algumas máquinas e hoje priorizo máquinas profissionais.”
Projetos de marcenaria
A antiga casa do avô paterno, Elstor, foi transformada no local de trabalho do jovem e, aos poucos, foi sendo modificada para atender a demanda. Guilherme e os pais plantam 55 mil pés de tabaco, além de itens para subsistência. E foi pensando em facilitar a mão de obra no tabaco que o jovem teve duas ideias que fazem sucesso entre agricultores.
Uma delas é uma podadeira elétrica para mudas de tabaco. “Fiz ela, começamos a usar e aprovamos. Depois comecei a divulgar e as vendas cresceram”, relata. Enquanto, no método manual, a família poda dois canteiros de mudas, com a podadeira elétrica, no mesmo período de tempo, é possível podar mudas de seis canteiros.
Além de facilitar a atividade na fase dos canteiros, o morador do 5º Distrito de Venâncio Aires criou uma enfardadeira elétrica – a prensa de enfardar tabaco. “O serviço é bem mais rápido e não precisa de força”, explica.
Os projetos são todos elaborados pelo jovem que executa as ideias e até desenha. “Mas, a maioria dos projetos faço de cabeça mesmo.” Após executar um equipamento teste para a família, Guilherme começou a divulgar a ferramenta de marcenaria nas redes sociais e os pedidos começaram a acontecer. “Já vendi para várias cidades do Rio Grande do Sul. Muitos vêm até aqui para ver e comprar, outras eu mesmo entrego”, comenta.

A ideia surgiu após o jovem constatar que não existem empresas na região que atendam esse tipo de demanda. “São poucas empresas especializadas nisso e nós produtores precisamos facilitar as tarefas”, pontua.
“A minha ideia é ter meu próprio negócio no interior. Construir um galpão novo e seguir trabalhando com a marcenaria e serralheria, pois são atividades que eu gosto e têm bastante procura.”
GUILHERME AUGUSTO WEHNER
Marceneiro e serralheiro
Um novo nicho de mercado: reformas e fabricação própria
• Hoje, além da podadeira e da enfardadeira elétrica, Guilherme começou a recuperar carroças e carretões.
• Um dos trabalhos de marcenaria mais demorados do jovem foi um carretão para transporte de cachorros de caça. “Foram 148 horas de trabalho nesse carretão. Faz uns dois meses que entreguei ele”, comenta.
• Agora, ele também iniciou a fabricação de móveis, como mesas, tampos de churrasqueiras e mesinhas de centro, tudo com madeira. “A gente vai atendendo os pedidos dos clientes e ampliando a linha de itens que fabricamos”, cita.
• O morador do 5º distrito comenta que também está construindo caixas de abelhas e cercas de madeira para colocar na porta. “Tem bastante crianças na região, daí estou com uma aceitação nas cercas que são colocadas nas portas.”
• Hoje, quando surgem dúvidas na hora de finalizar algum projeto, Guilherme conta com o auxílio de outros profissionais no ramo. “Mas são, na maioria, pessoas com mais de 50 anos. Não tem jovem que opta em trabalhar com isso”, observa.