O 15 de julho é marcado pelo Dia Estadual da Juventude Rural, uma data para valorizar quem escolheu permanecer no meio rural e se dedicar à produção agrícola. Nascidos e criados no interior de Venâncio Aires, Diana Machado, 28 anos, e Fernando Roberto Hendges, 32, ‘tocam’ a própria lavoura na localidade de Rincão de Souza, no interior de Venâncio Aires, há sete anos.
Diana, que cresceu em Linha Travessa, morou muitos anos com os avós na cidade e até chegou a trabalhar em uma empresa de móveis. A vida no meio rural não era algo que almejava. No entanto, ela afirma que hoje não se vê em outro lugar e em outra atividade.
Já Fernando, desde criança, acompanhou os pais, Marçal e Loni Hendges, na produção de tabaco e milho. “Eu nunca quis morar na cidade, desde cedo sonhava em ter a minha própria lavoura”, comenta.
Mesmo com caminhos trilhados de formas diferentes, o casal, que está junto há 11 anos, tem na produção de tabaco a realização profissional e que oportunizou a concretização de sonhos. Depois de seis anos morando em uma peça próximo dos galpões, há um ano eles se mudaram para uma casa construída na propriedade, uma conquista que foi possível pela dedicação à agricultura. “Primeiro queríamos pagar os investimentos e guardar o dinheiro para a construção da casa. Foi uma grande conquista”, salienta Diana.
Incentivo
O trabalho é feito em parceria com a família do pai de Fernando – eles dividem os afazeres e a equipe que atua diretamente na lavoura. Essa atuação conjunta e o apoio que teve do pai foram essenciais para que Fernando sentisse a segurança necessária para permanecer no campo e evoluir. “Meu pai me deu muitas oportunidades, aprendi muito com ele. Foi essencial esse apoio”, destaca.
O agricultor acredita que, muitas vezes, a falta desse incentivo contribui para que os jovens não queiram permanecer no meio rural. “O que acontece é que muitas vezes os pais só falam das dificuldades, mas hoje tem muitas coisas que podemos fazer para facilitar o trabalho”, observa.
Entre os desafios elencados pelo casal está a falta de mão de obra, preços dos insumos e necessidade de lidar com os extremos do clima.
Aos poucos, Diana e Fernando realizam melhorias para o dia a dia da propriedade. Há dois anos, investiram em energia fotovoltaica e na aquisição de uma colheitadeira. Recentemente, concluíram o plantio de 70 mil pés de tabaco.
Vida comunitária
Fernando e Diana concretizaram o sonho da casa própria e, agora, planejam aumentar a família – além do Scooby e Guri, pets que os acompanham na lavoura -, e permanecer no meio rural. Diana, principalmente, participa das atividades propostas pelas entidades do município e, recentemente, assumiu um novo desafio. Junto com cerca de 25 mulheres da comunidade reativou o Grupo de Mulheres do Rincão.
Ela foi escolhida para presidir o grupo que se encontra mensalmente na Comunidade de Nossa Senhora Aparecida, na localidade, e já participou de eventos. A agricultora valoriza esse convívio comunitário. “É um desafio e também muito gratificante por poder representar e mostrar a força da mulher no meio rural”, destaca a produtora, que também cultiva morangos e outros itens na horta junto da propriedade para consumo da família.
Valorização e suporte para a juventude no STR
Gilmar Rodrigues de Oliveira, o Gica, é tesoureiro do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Venâncio Aires, e responsável pela Comissão dos Jovens da entidade. Por meio da comissão, são realizados encontros a cada dois meses com a proposição de assuntos que possam auxiliar os jovens na tomada de decisões e adaptações necessárias nas suas respectivas atividades agrícolas. “É uma forma que temos de incentivar os jovens e contribuir para o desenvolvimento de suas propriedades”, cita.
Para marcar o Dia Estadual da Juventude Rural, o STR divulga nas redes sociais durante todo o mês de julho vídeos com relatos de jovens que se dedicam a diferentes atividades agrícolas, como uma forma de incentivo, para mostrar que as dificuldades existem, mas que vale a pena seguir neste caminho. “Buscamos valorizar quem está se dedicando e sendo protagonista em muitas propriedades”, complementa.
Gica observa que a falta de incentivo dos pais é um agravante para que os jovens queiram investir na agricultura. A extensionista rural da Emater-RS/Ascar de Venâncio Aires, Viviane Röhrs, também reforça a importância do incentivo, de modo que o núcleo familiar é primordial para que os jovens permaneçam no meio rural. “Sabemos que muitas vezes os pais não dão suporte para que os filhos invistam. O ambiente precisa ser favorecido, onde o jovem possa desenvolver novas oportunidades de trabalho, além do que já está instalado na família”, ressalta.
Gica ainda observa que a instalação de empresas no interior também é algo que favorece que os jovens decidam por um trabalho com carteira de trabalho assinada e salário fixo e possam permanecer na área rural.
400
jovens são associados ao STR de Venâncio Aires, que abrange também os municípios de Vale Verde e Mato Leitão. São considerados jovens rurais, de acordo com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), pessoas de 18 a 32 anos.
“O que vemos é que aqueles que permaneceram e tiveram o apoio dos pais para propor modificações e melhorias estão se desenvolvendo bem.”
GILMAR RODRIGUES DE OLIVEIRA – Tesoureiro do STR