Por Rosana Wessling e Taís Fortes
Produtor de aipim há cerca de 40 anos, Odair José Becker, 56 anos, mais conhecido como Branco, agora faz parte de um projeto realizado pelo grupo de pesquisa Simanihot da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A iniciativa diz respeito à implantação de uma Unidade de Observação de Mandioca.
Na propriedade de Becker e da esposa dele, Sandra Loreide dos Santos Becker, 55 anos, localizada na comunidade São João de Vila Arroio Bonito, no interior de Mato Leitão, ela foi instalada na quinta-feira da semana passada, 22. No mesmo dia, variedades de aipim também foram plantadas em Linha Herval, no interior de Venâncio Aires, na propriedade de André Luiz dos Santos, 37 anos.
De acordo com os pesquisadores, a escolha pelos dois municípios é justificada por eles serem grandes produtores de mandioca. “A gente vem com o propósito de mostrar alternativas de diversificação no cultivo e no manejo da mandioca, em dois municípios que se destacam na questão da produção”, explica a engenheira agrônoma Kelin Pribs Bexaira, integrante da equipe Simanihot. A mediação entre o grupo de pesquisa e os produtores foi feita pela Emater-RS/Ascar dos dois municípios.
Segundo a integrante do projeto, Paula Cardoso, o objetivo é, por meio de uma parceria entre universidade, produtor e Emater, identificar os fatores que causam perda de produtividade em determinadas regiões. “Vamos em busca do potencial de produtividade, que depois podem auxiliar o município, mas principalmente o produtor”, ressalta. Kelin complementa que a instalação das unidades busca analisar quais fatores estão limitando a produtividade, qual o manejo do produtor, como ele controla as plantas daninhas e coletar esses dados para a pesquisa.

Diversificação
Becker já investe no plantio de seis variedades de aipim, na propriedade de Arroio Bonito. A mandioca é usada para consumo da família, alimentação dos animais e comercialização. Na última safra, por exemplo, os agricultores colheram duas mil caixas de mandioca, totalizando cerca de 50 mil quilos. A família também aposta na diversificação, a partir do cultivo de tabaco, milho e erva-mate, além da criação de alguns animais, como galinhas, terneiros, porcos e peixes.
Justamente por gostar de inovar, prontamente, Becker e Sandra aceitaram participar do projeto promovido pelo grupo de pesquisas da UFSM. Na propriedade deles, foram plantadas cinco variedades de mandioca mais cultivadas no Rio Grande do Sul. O plantio aconteceu em uma área de aproximadamente 150 metros, totalizando cerca de 200 pés. Quatro delas são diferentes das que já são cultivadas no local. “Sempre gostei de tentar coisas novas. Tenho variedades que ninguém mais tem. Algumas que herdei do meu avô”, relata Becker.
Ele ainda salienta que, neste primeiro momento, a ideia não é ter uma boa colheita da mandioca, mas poder ver o desenvolvimento de cada variedade e utilizar a rama para plantar no próximo ano. “Ficamos felizes em receber o projeto. Gosto dessas coisas”, acrescenta. O produtor ainda observa que a cultura do aipim é muito boa, porque não necessita de um investimento muito alto. Inclusive, no ano passado, a mandioca foi o carro-chefe na propriedade do casal.
Segundo o chefe do escritório da Emater-RS/Ascar de Mato Leitão, Claudiomiro da Silva de Oliveira, esse momento é fundamental, pois pesquisadores e produtores andam lado a lado. “É um projeto interessante para mostrar os gargalos na produção e, de certa forma, valorizar ainda mais o produto”, avalia. Oliveira reforça a importância da pesquisa também colaborar com novas culturas.
“A pesquisa pode ajudar a ver o aipim como fonte de renda. Sem contar que, com as alternativas e variedades de produtos que eles nos trazem, podemos, no futuro, agregar novas opções de mercado e ver o aipim como um fonte de renda na propriedade.”
CLAUDIOMIRO DA SILVA DE OLIVEIRA – Chefe do escritório da Emater-RS/Ascar em Mato Leitão
Produção de aipim em Mato Leitão
- São 273 famílias que cultivam o aipim em escala comercial.
- São aproximadamente 350 hectares de aipim comercial no município.
- Em Mato Leitão, uma agroindústria comercializa o aipim descascado.
O número de unidades de observação que o grupo já instalou no último ano no Rio Grande do Sul é 17. Além disso, duas foram feitas em Santa Catarina e uma no Paraná. O projeto já se encaminha para o quarto ano de realização.