Semanas de clima mais seco já afetam legumes e verduras no interior de Venâncio e casal de Linha Sapé aposta em irrigação.
Parece clichê repetir isso nos últimos anos, mas o clima segue com seus extremos. Mal encerra um fenômeno, começa outro, com intensidades que sempre deixam marcas e a agricultura é uma das primeiras a sentir. Se há duas semanas a Folha do Mate destacou a preocupação com as lavouras de grãos, especialmente soja, agora as hortaliças entram para o grupo das produções ameaçadas.
Ainda na metade do ano passado, quando o El Niño (que elevou as temperaturas do Oceano Pacífico Equatorial e, consequentemente, impactou na região sul do Brasil) recém-enfraquecia, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) já destacava que o La Niña estava chegando, fenômeno que é o oposto. Ou seja, se tivemos enchentes históricas em maio, depois disso a tendência era de chuvas mais escassas e aí a palavra estiagem voltaria à pauta. E voltou.
Necessidade de irrigação
Nesse início de 2025, Venâncio Aires conta nos dedos os dias de chuva (veja abaixo), a qual, quando veio, não teve regularidade e volume ideais. Ao observar o desenvolvimento de alface, repolho, brócolis, couve-flor, rúcula, chicória e temperos, um casal de Linha Sapé precisou agilizar a instalação de um sistema de irrigação por aspersão (que simula chuva). Com ele, Amalia Agnes e o marido Jhonatan Funari, ambos de 38 anos, esperam reavivar as hortaliças. “O que plantamos não nasce direito e o que estava plantado, não consegue se desenvolver. Estamos ligando a irrigação no início da manhã e à tardinha, quando a terra está mais fria. Na hora do sol, se molhar, a planta vai ‘cozinhar’ no solo”, detalha Amalia.
Ela explica que, mesmo sendo culturas rápidas (alface cerca de 30 dias, por exemplo), às vezes o plantio não será no tempo ideal, devido às condições do clima. Por isso, a produtora alerta que a oferta pode ser impactada e os preços devem aumentar para o consumidor entre fevereiro e março.
Água do açude para a irrigação
Em junho de 2024, o casal de Linha Sapé já estava apreensivo com os indicativos climáticos de pouca chuva para os meses seguintes. A preocupação existia na época que ainda se recuperavam dos estragos causados pelo excesso de chuva em maio.
Como os dias mais secos se confirmaram neste verão, o jeito foi investir: cerca de 100 barras de canos de seis metros cada, mais de 40 aspersores e um motor para bombear a água do açude. Segundo Jhonatan Funari, o sistema abrange dois hectares e irriga cerca de 38 mil pés de verduras.
A água que simula chuva pelos aspersores vem de um açude de 2,7 mil metros cúbicos escavado no ano passado, projeto possível porque os produtores estavam entre os 12 contemplados no município em 2023 com a abertura de açudes para irrigação, por meio do programa Supera Estiagem, do Governo do Estado.

25 milímetros
Segundo pluviômetro do agricultor Paulo Fischer, de Linha Herval Mirim, o mês de janeiro registrou 25 milímetros em Venâncio Aires (até o fim da tarde de sexta, 24). Foram 9 mm dia 1º, 6 mm dia 19, 8 mm dia 20 e 2 mm dia 24 (até as 18h30min).
Feira da Cooprova
Segundo a presidente da Cooperativa dos Produtores de Venâncio Aires (Cooprova), Mônica Moraes, os dias secos já impactam na oferta de algumas variedades de hortaliças nas feiras, principalmente folhosas, como alface, couve e repolho. “Dezembro foi um mês com mais chuva e isso levou os produtores a continuar plantando. No início de janeiro, quando começou a escassear a chuva, era arriscado investir em mudas e sementes. Não é como em anos anteriores, mas estamos preocupados sim, porque alguns produtos na feira reduziram e vimos que não têm a mesma qualidade.”
Fetag alerta para nova estiagem*
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag) está em alerta diante de mais um período de estiagem que pode impactar a agricultura familiar gaúcha. Em busca de soluções e de uma atualização do cenário, realizou uma série de reuniões na terça, 21, com o presidente da Famurs, Marcelo Arruda, e os secretários estaduais do Desenvolvimento Rural, Vilson Covatti, e da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Clair Kuhn.
Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag, reforçou a gravidade da situação e destacou a necessidade de ações emergenciais por parte do poder público. “Desde o ano passado, alertávamos que as renegociações feitas pelo governo, que não atenderam nosso pedido de renegociação por 15 anos, poderiam gerar problemas caso não tivéssemos uma safra cheia. E, infelizmente, isso já ocorreu no primeiro ano.”
Durante a reunião, foi acertada a assinatura de um termo de cooperação que permitirá a disponibilização de um boletim semanal com informações meteorológicas produzido pelo Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro). Também foi discutido o tema da reservacão de água como uma ação prioritária. Nos próximos dias, novas reuniões devem ocorrer para consolidar propostas e encaminhá-las aos governos estadual e federal. (*Fonte: AI Fetag-RS)