Carla e Leandro decidiram recuperar uma área e implantar o sistema de agrofloresta (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)
A conscientização ambiental e a recuperação de áreas degradadas são grandes preocupações dos agricultores e moradores da área rural do município. Muitos apostam no Sistema Agroflorestal para mudar essa realidade. Para auxiliar nesse processo, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Venâncio Aires participa, desde 2018, do projeto Biomas, que visa priorizar o uso racional dos recursos naturais e na produção rural, além de suprir uma demanda do passivo florestal proveniente da supressão de vegetação licenciada na Secretaria de Meio Ambiente do Estado, que chegou a 40 mil mudas em 2015.
Na época, Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) notou a oportunidade de trabalhar o passivo, repondo esta área florestal obrigatória, proporcionando ganhos para todas as partes. Dessa forma, a entidade de Venâncio Aires decidiu participar do projeto e habilitar associados da Capital do Chimarrão para auxiliarem na recuperação do meio ambiente, com a doação de mudas frutíferas e nativas.
Em Linha Brasil, na divisa com Linha Harmonia da Costa, Carla Inês Rabuske Weber, 36 anos, e o marido Leandro Ricardo Weber, 38, encontraram um novo projeto para aliar as horas vagas, paixão pelo interior e os cuidados com a natureza. O casal reside na área central, mas as raízes pertencem ao interior. Carla é professora, Leandro eletricista. Durante as aulas de pós-graduação no IFSul, ela aprendeu questões sobre os Sistemas Agroflorestais. “Fiquei impressionada com o projeto simples, mas de tamanha importância para nosso meio ambiente. Lembro que cheguei em casa e logo falei para o Leandro, que demonstrou interesse. Não demorou muito e nossas pesquisas na internet eram sempre relacionadas ao tema”, conta.
Mudas foram plantadas em julho de 2020. Na última semana, equipe do STR visitou a família de Linha Brasil (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)
A professora salienta que ela e o marido conversaram com seus pais, José Emílio e Maria Rabuske, e decidiram recuperar uma área de terra que estava bastante degradada. “Na infância, lembro que meus pais plantaram tabaco, milho e, depois, as terras eram arrendadas”, diz. Não demorou muito e o casal viu no jornal o projeto do STR. “Quando vimos que teria doação das mudas, logo fomos nos informar”, ressalta. Carla e Leandro conseguiram 450 mudas de árvores nativas e frutíferas, que foram plantadas em julho do ano passado. “Como a gente queria recuperar o espaço e surgiu esse projeto das mudas, vimos que se encaixou perfeitamente nos planos”, comenta a professora.
As mudas foram o início do processo de recuperação da área. A família começou a preparar a terra e cultivar as mudas. Além disso, foi pensado na cobertura verde para auxiliar na drenagem e cuidados com as mudinhas, além da contribuição com o solo. A área de cerca de dois hectares é cultivada em linhas, para reaproveitar a sombra. Além disso, o sistema do casal visa retirar o sustento da floresta, sem agressão. “Já comercializamos alguns produtos este ano, para amigos. Foi muito bom, recebemos um ótimo retorno e eles gostaram dos produtos, principalmente por serem sem agrotóxicos”, afirma Carla.
“Precisa ter tempo e consciência. É uma nova forma de pensar ”
Por não trabalharem com agrotóxicos e reaproveitarem a área ao máximo, muito da alimentação do casal e das duas filhas, Leandra e Estela, também já é retirada do pomar. “A gente já tinha uma vida saudável, mas é muito mais prazeroso tirar o nosso alimento da terra que estamos cuidando e plantando”, compartilha a professora.
Carla e Leandro afirmam que é preciso de tempo, pois as coisas acontecem devagar, afinal, o espaço estava degradado e, agora, passa por um processo de reabilitação para recuperar o sistema florestal e o ambiente natural. “É uma nova forma de pensar e ver o meio ambiente. Um exemplo prático é o inço. Para muitos, isso é relaxamento, mas no processo da agrofloresta, se torna algo importante”, complementa Carla.
Futuro
O casal já tem projetos futuros. O primeiro é ampliar o espaço e plantar mais mudas, diversificar ainda mais e ampliar o sistema agroflorestal. “A gente quer tirar nossa alimentação daqui. Queremos uma certificação agroflorestal e, depois, uma orgânica”, salienta Leandro. Outro passo é integrar a rota turística e comercializar as frutas e verduras no local. “Queremos buscar entidades, faculdades e instituições que desejam fazer estudos e pesquisas nesse sistema agroflorestal”, revela Carla.
José Emílio Rabuske e Maria Inês Fengler Rabuske (ao centro) pais de Carla receberam o valor do auxílio do projeto Biomas do tesoureiro e presidente do STR (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)
No dia 26 de maio, o presidente do STR, Claudio Fengler, e o tesoureiro, Gilmar de Oliveira, fizerem a entrega do auxílio para a família. “O projeto previa que a cada muda de árvore, a família recebesse um real para contribuir com a manutenção. É um pequeno estímulo, mas que incentiva as famílias a continuarem”, frisa Oliveira. A iniciativa começou em 2019 e oito agricultores de Venâncio Aires já receberam as mudas através do projeto Biomas. Até o momento, o STR já doou 4,2 mil mudas para produtores.
4,2 mil
foi a quantidade de mudas de árvores nativas e frutíferas distribuídas em Venâncio Aires pelo STR.
Vantagens e benefícios do Sistema Agroflorestal
Conforme o agroecólogo e monitor na área de produção agropecuária na Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc), Mateus Finkler, a importância do Sistema Agroflorestal para o meio ambiente é enorme, principalmente pelo sequestro de carbono realizado por toda a vegetação do sistema.
Outra vantagem do Sistema Agroflorestal é a diminuição do impacto ao meio ambiente pela redução das temperaturas. “Isso ocorre devido à umidade presente no sistema e, também, pela saúde do solo, da fauna e flora do local, pelos manejos realizados, pelo não uso de adubos sintéticos e agrotóxicos, pois um dos preceitos dos Sistemas Agroflorestais é imitar a natureza nos seus processos”, cita Finkler.
As vantagens, segundo o agroecólogo, são ambientais e agroecológicas, como também econômicas. “Temos um baixo custo de implantação e manutenção e, também, de mão de obra e maquinário, pois os Sistemas Agroflorestais podem ser adequados conforme a realidade do agricultor”, conclui.
“As agroflorestas podem compor um conjunto de espécies vegetais de maior ou menor porte, onde
Foto: Rosana Wessling/Folha do Mate
cada uma terá a sua função para o sistema. Também produzirá um produto específico em diferentes parcelas de tempo e espaços dentro do sistema.”