Em Venâncio Aires, a colheita da soja está a todo vapor. Produtores estão monitorando o clima para entrarem com o maquinário nas lavouras novamente neste fim de semana. O volume colhido no município chega a 38%, conforme informado pelo escritório local da Emater-RS/Ascar.
Em Vila Santa Emília, Clécio Konrad, 58 anos, e Leonice Stülp Konrad, 54 anos, iniciaram a colheita no dia 12 de março, de forma escalonada. “A gente foi verificando a umidade do grão e se o tempo colaborava a gente ia colhendo. Essa última semana que foi mais parada, não deu para entrar na lavoura”, cita o produtor. A chuva nos últimos dias, acompanhada do vento forte, acamou alguns pés de soja, mas nada que causasse grandes prejuízos. “Foram algumas manchas, onde o vento passou.”
Do total de 90 hectares de soja cultivados na safra, 30 hectares já foram colhidos. Além disso, ainda foram semeados 20 hectares de soja safrinha. “Nas primeiras lavouras da safra tivemos problemas de germinação, em 10 hectares fizemos replante, levou uns 30 dias para germinar e o certo é em duas semanas. Então, agora, na colheita tinha alguns pedaços com pouco rendimento. Mas da mesma forma, fomos surpreendidos com o bom resultado.”
Ano passado, devido à estiagem, a família ainda destaca que teve um bom rendimento se comparar o resultado de vizinhos e outros produtores. “Nós tiramos uma média de 53 sacos, por hectare.” Nesta safra, a família Konrad já percebeu que o rendimento está em 80 sacos por hectare. “A gente investe muito, se dedica, por isso acredito que temos uma boa produtividade agora, na colheita”, salienta o produtor. A família já constatou um aumento de cerca de 30% na produtividade em relação ao ano passado.
“Essa safra é empolgante, com preços compensadores, mas a próxima safra é um ponto de interrogação. Os custos estão exorbitantes, diesel e frete dobraram de preço e insumos já estão na ameaça de faltar.”
CLÉCIO KONRAD – Produtor de soja
Apesar dos preços animadores, a família não optou em aumentar a área cultivada neste ano. Mas o cenário no município é de aumento considerável. Neste ano, as 170 famílias envolvidas com a atividade plantaram 4,6 mil hectares, esse número pode ser considerado a maior área de cultivo dos últimos 20 anos. “Temos um aumento de 250 hectares do que esperávamos inicialmente”, cita o chefe do escritório local e engenheiro agrônomo, Vicente Fin.
Na safra passada, Venâncio plantou 3.950 hectares, dessa forma o município teve um aumento de 16% na área plantada. A produção estimada pela Emater é de 62 sacos por hectare, uma média de 3,6 toneladas, por hectare. “O clima atrasou um pouco o plantio mas eu diria que tivemos uma boa umidade e incidência do sol. No geral foi uma safra boa”, avalia Fin.
Aumento de área
A produção de soja no estado teve um aumento significativo e em Venâncio não foi diferente. Na semana passada a Emater e a Secretaria Estadual de Agricultura lançaram a estimativa final da safra de verão. O grão tem um incremento na produção de 80,02%, passando de 11,2 milhões de toneladas para 20,2 milhões de toneladas nesta atual safra, e de produtividade (76,63%), com rendimento projetado de 3,32 toneladas por hectare, em área de 6 milhões de hectares, apenas 1,56% maior que no ano anterior.

Conforme Fin, os números do estado são considerados excepcionais e Venâncio faz parte desse resultado. “Venâncio acompanhou esse recorde do estado. Aqui também teremos uma supersafra. Tivemos um bom incremento de área em relação à expectativa inicial.”
O engenheiro agrônomo conta que quando começou a atuar em Venâncio Aires havia uma grande preocupação com a expansão da área de soja. “A gente tinha uns 250 hectares. E com o passar dos anos os produtores foram se empolgando, o preço foi avançando e hoje temos a maior área plantada dos últimos 20 anos.”
Venâncio Aires está com a maior área de soja dos últimos 20 anos, são 4,6 mil hectares de safra e safrinha, com a expectativa média de produção de até 62 sacos por hectare.
“Próxima safra é um ponto de interrogação”, diz produtor
O casal que largou o tabaco para se dedicar ao cultivo do grão fala que nesta safra os preços são extremamente empolgantes. “Nunca na história a gente ganhou tão bem. As primeiras sacas desta safra vendemos na média R$ 160. No ano passado, nesta mesma época, conseguimos R$ 90. Mas a próxima safra é um ponto de interrogação. Os insumos estão altíssimos e a gente não faz ideia de quanto vai receber pela soja na próxima safra, não temos garantia de nada”, explana Konrad.
“A soja é uma colheita de risco. A gente sempre depende do clima e precisamos de organização para projetar a seguinte”, comenta Leonice. Se o tempo colaborar e tudo sair conforme o planejado, a safra do casal deve ser colhida até o fim de abril e a safrinha até meados de junho.
Leonice salienta que apesar dos preços nesta safra estarem compensadores, eles optaram por não aumentar a safra. “A gente continuou com a mesma área do ano passado e decidimos caprichar, dar uma atenção maior. O trabalho com a soja depende de muita atenção. Mas sempre fomos agricultores, a gente não ia se adaptar em outra coisa”, enaltece a produtora rural.
Há 12 anos tendo a soja como carro-chefe, Clécio e Leonice se dividem na hora da colheita, enquanto ele vai pilotando a colheitadeira, ela é a responsável pelo trator e o graneleiro. “Quando ele estica o braço da ceifa, eu preciso estar do lado para que o grão seja despejado no carretão”, explica a agricultora.
R$ 160
é o preço médio da saca de 60 quilos, valor pago ao produtor nesta safra.