Soja tem perda estimada de 20% em Venâncio Aires

-

Emater projeta volumes menores da soja devido à estiagem entre dezembro e janeiro. Falta de chuva regular prejudicou parte das lavouras.

Há dois meses, a Folha do Mate destacou a apreensão em relação à safra de grãos em Venâncio Aires, especialmente a soja, onde a falta de chuva já comprometia boa parte do desenvolvimento das lavouras. Durante os primeiros 18 dias de 2025, o volume foi de apenas 9 milímetros no município (conforme pluviômetro de Paulo José Fischer, agricultor de Linha Herval Mirim), resultado da chuva de 1º de janeiro. Só voltou a chover dia 19, durante a Festa de São Sebastião Mártir, padroeiro da cidade e famoso por sempre ‘enviar’ uma chuva.

Mas, neste ano, nem a força do santo foi suficiente e muitas lavouras não conseguiram se recuperar. Dos 7 mil hectares cultivados na safra 2024/25, a perda estimada já chega a 20%. “Deve chegar perto de 20 mil toneladas colhidas, mas as perdas ainda não estão definidas, vai depender do clima na sequência”, observa Vicente Fin, chefe da Emater local. As 20 mil toneladas são resultado de uma média de 2.880 quilos por hectare, volume bem abaixo dos 3,6 mil quilos esperados anteriormente. Ou seja, numa condição climática favorável, Venâncio poderia chegar a uma colheita de 25 mil toneladas de soja na atual safra.

Ainda segundo Vicente Fin, a soja é a cultura mais afetada pela estiagem em Venâncio Aires. “No milho, a projeção entre o cultivo do cedo e o tardio, é de uma perda de 10%. Se perdeu um pouco de hortaliças entre janeiro e fevereiro, mas a soja realmente é a que mais sofreu.”

Impacto no fim do ciclo da soja

A apreensão de produtores no início de janeiro se confirmou e, no momento em que as colheitadeiras começam o trabalho, muitos já sabem que o volume não será o esperado. É o caso de Rene Schwendler, 49 anos, morador de Linha Olavo Bilac, na região conhecida como Salto, no interior de Venâncio Aires. Nesta safra, ele plantou 32 hectares de soja e calcula que a quebra deve chegar a 30%. “Em janeiro, quando a planta estava na fase de encher o grão, choveu apenas 17 milímetros aqui. Deveria ter dado, pelo menos, mais de 60”, relata Schwendler.

O ponto mais crítico das lavouras deles está nos 17 hectares próprios, semeados no início de novembro e cuja colheita começou na semana passada. “Acho que vai dar uma quebra de 40% só nessa parte”, comenta. Nos outros 15 hectares, que o agricultor arrenda entre Linha Marechal Floriano e Linha Sapé, o cenário não é ‘tão’ frustrante. “Nesses plantei em dezembro e lá choveu um pouco mais. Não será tão grave, mas também vai ter quebra.”

Chama atenção na propriedade de Rene Schwendler que lavouras distantes apenas um quilômetro uma da outra têm diferenças, mesmo que estejam em igual estágio de desenvolvimento. “Naqueles dias muito quentes, as áreas de várzea mantiveram mais a umidade. Mas onde o solo é mais de areia e nas coxilhas, sofreu muito. Isso prejudicou bastante no fim do ciclo da soja. Por isso tem partes muito comprometidas. Eu esperava 96 toneladas e deve chegar a 60. Mas quem tem ‘firma a céu aberto’ é assim mesmo e a gente faz o possível.”

Diferenças no desenvolvimento: em outro ponto da propriedade, agricultor mostra parte da lavoura que conseguiu se desenvolver bem durante o ciclo e está pronta para a colheita (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Rentabilidade e volta do tabaco

Rene Schwendler avaliou o fator preço, o qual, segundo ele, não dá garantias aos produtores de grãos. “Isso é um dos problemas nas culturas de grãos. Porque às vezes passa dois ou três anos, e voltamos ao preço anterior, em vez de, pelo menos, manter. Nos últimos dois anos aconteceu com o trigo, por isso nós voltamos para o fumo.”

Depois de cinco anos, o agricultor decidiu voltar a plantar tabaco. Conforme ele, vai demorar, em Venâncio, para alguma cultura se aproximar da rentabilidade do tabaco. “No fumo pelo menos se tem uma tabela, então se sabe quanto vai ganhar. Diferente do grão. Por isso voltamos pro tabaco. A soja vai dar um pouco de comprometimento esse ano, mas como a gente tem as duas culturas, vai conseguir equilibrar as contas.”

Realidade na microrregião

Os prejuízos na agricultura já levaram dois municípios da microrregião a decretarem emergência devido à estiagem. No fim de fevereiro, Passo do Sobrado anunciou a decisão, após confirmar perdas de R$ 31 milhões em culturas como soja, milho, tabaco, arroz e bovinocultura de corte e leite.

Também no mês passado, Vale Verde decretou emergência e as culturas mais afetadas são soja, milho, leite e hortaliças. Além disso, a Prefeitura já precisou levar água potável para algumas localidades. O laudo da Emater apontou um percentual de 20% de perdas em Vale Verde.

Em Mato Leitão, a estiagem também afetou a soja, hortaliças, milho e bovinocultura. Conforme o secretário da Agricultura e Meio Ambiente, Devanir José Heinen, os maiores problemas ocorreram em janeiro, quando a falta de água impactou a criação de animais e o calor excessivo prejudicou o milho na fase de formação da espiga. “Não estamos considerando a hipótese de situação de emergência, pois não é o nosso caso. O milho safrinha está bonito e verde, e, em relação à soja, teremos que aguardar um pouco mais para avaliar as perdas”, comenta Heinen.

17,4% – é a queda estimada da soja no Rio Grande do Sul na safra 2024/25. A produção da principal cultura do estado está prevista em 15 milhões de toneladas. Os dados foram divulgados terça-feira, 11, pela Emater, durante a Expodireto, em Não-me-Toque.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

Clique Aqui para ver o autor

Oferecido por Taboola

    

Destaques

Últimas

Exclusivo Assinantes

Template being used: /bitnami/wordpress/wp-content/plugins/td-cloud-library/wp_templates/tdb_view_single.php
error: Conteúdo protegido