Venâncio Aires, há cerca de 10 anos, tinha mais de dois hectares de plantação de amora. Com o passar dos anos, muitos abandonaram a atividade ou não tiveram sucessores interessados para tocar o negócio. Entretanto, agora, lentamente a fruta vem encantando os olhos dos produtores e agregando uma nova fonte de renda em três propriedades do município. Daqueles dois hectares, hoje o município tem apenas 0,25 hectares. São pequenos cantinhos com as frutas.
Em Vila Palanque, a safra de amoras vem animando Dirceu Luiz Hinterholz, 61 anos, e Cleria Hinterholz, 58 anos, com os bons frutos e vendas. O casal iniciou a colheita da safra na primeira quinzena de novembro, um mês mais tarde do que no ano passado. São 110 pés em produção e mais 59 que foram plantados neste ano, mas que ainda estão produzindo em grandes quantidades.
Plantadas há dois anos, as primeiras mudas já estão na segunda safra. “Ano passado vendi 150 quilos, mas perdi uns outros 150 quilos com o sol quente que queimou as frutas”, lembra Hinterholz. A seca no início do ano e o período de frio com geada no inverno prejudicaram o desenvolvimento das amoras, todavia, a expectativa é de safra cheia. “São três meses de colheita, já tiramos uns 80 quilos. A expectativa é de até três quilos por árvore”, enumera. A família espera colher mais de 320 quilos de amora na safra.
A maioria das vendas acontece na propriedade, em Vila Palanque. As pessoas vão até a casa da família e até podem participar da colheita. Além disso, algumas encomendas são entregues no Centro da cidade. “Decidimos apostar nas frutas e está dando certo. Colhemos frutas de outubro a abril, entre elas o pêssego, caqui, figo, morango, uva e amora. Em apenas um hectare de terra temos nossa renda e diversificação”, enaltece o produtor.

Dedicação com as amoras
Cuidar das amoras exige dedicação. “É uma criança que tu tens na mão”, compara Hinterholz. A fruta exige um cuidado especial com as podas e adubação. “A amora quer adubação orgânica. E o segredo é a poda, você precisa sempre estar cuidando”, comenta Cleria.
O manejo é realizado pelo casal diariamente, sem nenhum uso de agrotóxico. A amora exige dedicação e cuidados na hora a colheita. Cléria e Dirceu observam a umidade e assim que elas estão mais secas, iniciam a colheita na parte da manhã, ou então no fim do dia.
Os planos são inúmeros e devido à grande procura pelas frutas, o casal não descarta a possibilidade de habilitar a propriedade em um sistema colhe e pague. “Estamos bem localizados, produzindo variedades diferentes. Com o tempo vamos encaixar nosso prazer em cultivar frutas no turismo. Hoje já recebemos pessoas que querem ajudar a colher, e a gente gosta disso. É muito prazeroso ver que está dando certo”, salienta o produtor.
8 gramas
é o peso médio de uma amora.

O preço da amora é semelhante ao valor pago pelo quilo do morango. Cleria e Dirceu encontraram uma forma de comercialização sem amassar as frutas que são sensíveis. Eles comercializam bandejas de 500 gramas por R$ 7,50.
Produtores começam a investir na fruticultura
Um movimento tímido, mas que lentamente vem conquistando espaço. Assim como em outras regiões do Rio Grande do Sul, em Venâncio Aires, os produtores estão apostando e investindo em pomares e comercializando as frutas em mercados institucionais e também diretamente.
Segundo o chefe do escritório local da Emater/RS-Ascar, Vicente Fin, o “Programa Municipal de Fruticultura tem sido um gatilho para despertar esse olhar do produtor com as frutas.” Ele ressalta que o programa, lançado em 2018, está se tornado funcional, e nos próximos anos, a tendência é diversificar ainda mais.
“Outra questão é que o produtor está se dando conta que a maioria das frutas vem de fora e que isso pode ser revertido e uma nova opção de negócio”, pontua Fin. Além disso, o profissional destaca que o sabor especial e a qualidade local garantem que o produtor invista cada vez mais na fruticultura, pois o mercado está crescendo. “Os produtos locais têm uma carga de agrotóxico muito menor, no caso das amoras isentas. Sem contar que a qualidade é diferenciada e o apelo ‘quando compra aqui, gira aqui’.”
Para o produtor de Vila Palanque, produzir frutas é um diferencial para quem procura inovar e cultivar algo diferente no campo. “Se tu te dedicas, vai atrás, dá certo. Tem muito mercado. As pessoas acabam comprando porque sabem da qualidade do produto que estão consumindo localmente”, diz Hinterholz.
O agricultor acredita que ainda existem vários caminhos a serem descobertos. “Acredito que de alguma forma as frutas produzidas localmente poderiam ser inseridas na alimentação das crianças nas escolas. E sinto falta de ter uma propriedade modelo na cidade. Pois você tem informações técnicas com a Emater, mas, às vezes, falta ver na prática e conversar com quem faz e dá certo. Sem dúvida, teríamos a possibilidade e ter uma propriedade que fosse de experimento”, sugere.
“Percebe-se que lentamente os produtores estão vislumbrando os pomares como uma opção de renda, seja para vendas locais, na própria propriedade ou em mercados institucionais.”
VICENTE FIN
Chefe do escritório da Emater de Venâncio Aires
LEIA MAIS: Pêssego: uma aposta de mercado para o agricultor