Não é apenas a população venâncio-airense que respira mais aliviada nas últimas semanas e está mais otimista devido à queda dos números Covid. Quem também ganhou fôlego é o Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) – onde tudo ‘respinga’ quando o assunto é saúde – , que vive um momento mais saudável e tranquilo no que diz respeito ao próprio bolso.
Desde maio, a instituição registra superávit, ou seja, o que entrou no caixa da instituição deu para pagar as contas e ainda sobrou um pouco. Além disso, ainda em agosto, o hospital já tinha assegurada a aplicação do 13º salário dos cerca de 500 funcionários – cerca de R$ 1 milhão previstos para depósito nas datas tradicionais, em novembro e dezembro.
Esse cenário era impensável há dois anos, quando a casa de saúde enfrentou uma das piores crises, com déficit mensal, salários atrasados e até demissões, o que exigiu um verdadeiro plano de recuperação encabeçado pela Comissão de Elaboração do Plano de Apoio à Gestão Administrativa, Financeira e Operacional do HSSM (veja box).
O superávit é registrado nos últimos três meses, mas ainda em 2020 a instituição passou a pagar ‘religiosamente’ todas as contas. “Impostos, luz, funcionários, honorários médicos, insumos e fornecedores. Em 2021 não tivemos nenhuma conta atrasada”, comemorou o presidente do HSSM, Luciano Spies.
Os fatores
Dos atuais R$ 19 milhões que formam o passivo do hospital, a maioria diz respeito a empréstimos bancários. Há contratos com Unicred, Banrisul, Sicredi e, só com a Caixa Federal, são R$ 10 milhões diluídos em 180 meses (15 anos), após renegociação no início do ano.
O compromisso é longo e pesado, mas foi por causa desse refinanciamento que o hospital mudou a capacidade de lidar com pagamentos. “Pegamos um novo empréstimo que pagamos o mesmo valor mensal, mas com juros bem mais baixos. Isso foi fundamental”, destacou Luciano Spies.
Além disso, o que contribuiu para um 2020 mais equilibrado foram os quase R$ 3,5 milhões de emendas parlamentares, buscados de porta em porta nos gabinetes de Brasília, no fim de 2019. Com o plano de recuperação em ação, o valor entrou de forma específica para o pagamento de contas.
Convênios e particulares aumentaram faturamento
Na implementação do plano de recuperação financeira, a direção do HSSM já chamava a atenção para a necessidade de aumentar o número de internações por meio de convênios ou particulares, melhora já percebida em 2021.
Em todo 2019, apenas um mês registrou um faturamento superior a R$ 1 milhão. Já neste ano, foram mais momentos com faturas acima de R$ 1,4 milhão. “Já chegamos a R$ 1,7 milhão num mês em 2021. Isso é muito importante, porque a receita dos particulares e convênios equilibram o SUS”, explicou o presidente.
Além das internações, os serviços disponibilizados também são parte importante para dar maior fôlego às finanças. É o que se espera da ressonância magnética, prevista para 2022, que futuramente vai incrementar a receita do hospital.
Contrato
Desde 2020, com recursos exclusivos para o combate à pandemia, o hospital não teve gastos a mais com outros serviços (alguns foram suspensos, como cirurgias eletivas, por exemplo) e, especificamente para a Covid, a instituição reorganizou o pessoal e realocou funcionários. “Como as internações Covid vêm caindo, o repasse específico vem reduzindo também e já retomamos muitos atendimentos ‘normais’ no SUS. Por isso precisaremos renegociar o contrato com a Prefeitura”, revelou Luciano Spies.
Segundo ele, o convênio com o Município, que tem a gestão plena do HSSM para os repasses do Sistema Único de Saúde (SUS), está com os mesmos valores desde 2019. “É importante destacar que o contrato não prevê mudança para reajuste, mas pode haver um reequilíbrio. Então para 2022 precisaremos renegociar.”
Desde 2018, o que ocorre é um prolongamento anual do convênio e os valores eram reajustados sempre no início de cada ano, sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Estrutura Covid diminui leitos clínicos e de UTI
Com a queda nos números, o HSSM diminuiu mais um pouco da estrutura montada para enfrentar o coronavírus. Segundo Luciano Spies, desde esta quarta-feira, 1º, são oito leitos clínicos no Setor Covid – eram 19 disponíveis pelo SUS.
Também houve diminuição na UTI Covid, que passa de oito leitos para cinco. Vale lembrar que, até poucos dias atrás, na prática eram 10, já que era a UTI ‘normal’ que atendia os casos graves de coronavírus durante a maior parte da pandemia.
Como as internações diminuíram consideravelmente, a UTI principal passou por desinfecção e já voltou a atender pacientes com outras doenças.
PA
Por enquanto, o Pronto Atendimento (PA) do lado SUS segue fechado e não há previsão de retomada. “Temos uma UTI funcionando lá dentro, mas não só por isso. Nossa vontade é que continue fechado, pois essa é a forma correta e deveria se manter assim, apenas com urgências e emergências. O que não for urgente, as pessoas devem continuar procurando a UPA ou os postos de saúde”, considerou o presidente.
Já as consultas no PA de convênios e particulares funcionam normalmente desde abril. O motivo é porque há espaço disponível e é uma fonte de receita para o hospital, já que o paciente que têm convênio não precisa mais ir na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Cruzeiro.
Na prática, enquanto o PA particular ficou fechado, a UPA passou a receber uma demanda maior e todo cidadão acabava atendido via SUS. Ou seja, era uma conta a mais para o Município e o hospital deixou de receber valores importantes – cerca de R$ 70 mil por mês.
Relembre
- Em setembro de 2019, através de um decreto, foi formada a Comissão de Elaboração do Plano de Apoio à Gestão Administrativa, Financeira e Operacional do HSSM, criada para identificar ações que resultassem na recuperação da gestão, com ações de incremento de receita e oportunidades de redução de custos.
- Um estudo apontou que entre 2014 a 2018, a receita cresceu 4,45% e a despesa 16,2% – uma média anual de crescimento de 1,12% na receita ante 4% na despesa. Foi isso que, segundo a comissão, resultou no déficit crescente e que a cada ano agravou a capacidade de pagar obrigações.
- Em outubro de 2019, para tentar diminuir um déficit mensal que chegava a R$ 650 mil, a instituição precisou tomar medidas mais duras e, além de demissões, houve cortes em gratificações de chefias, horas extras, insalubridade, e gastos com exames, procedimentos e internações ‘sem necessidade’. Ao mesmo tempo, foram iniciadas tratativas para renegociação de empréstimos.
- No mês seguinte, o ex-prefeito Giovane Wickert, o já presidente do HSSM, Luciano Spies, e o então secretário de Saúde, Ramon Schwengber, realizaram uma verdadeira maratona pelos gabinetes parlamentares em Brasília. O objetivo foi sensibilizar políticos a destinar parte de suas emendas para ajudar o hospital (o que resultou nos R$ 3,5 milhões referenciados anteriormente).
- As emendas entraram diretamente no Fundo Especial de Recuperação do HSSM. Dentro dele, também foram contabilizados R$ 200 mil repassados pelo Legislativo e R$ 161 mil de repasse federal a hospitais filantrópicos.
- Para se ter uma ideia, em outubro de 2019 as obrigações em atraso ‘sem lastro financeiro’ (contas com honorários médicos, energia elétrica e impostos, por exemplo) eram de R$ 2,5 milhões. Já em setembro de 2020, quando foi encerrada a comissão, a soma era de R$ 735 mil – queda de 70%.
“Minha expectativa é entregar numa situação mais confortável. Houve evolução no atendimento e na estrutura e vamos fechar 2021 com as contas em dia. Muita gente trabalhou para fugir da crise e fizemos um esforço tremendo para enfrentar a pandemia, em todos os sentidos. Foi um período de muita superação.”
LUCIANO SPIES – Presidente do HSSM desde maio de 2019 e que entrega o cargo no próximo novembro