A cada caso de coronavírus notificado, existem outros cinco. Essa foi uma principais conclusões apontadas na terceira etapa da pesquisa que apura a soroprevalência da Covid-19 na região. O estudo, encomendado pelo Consórcio Intermunicipal de Serviços do Vale do Rio Pardo (Cisvale), e realizado pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), também indica um aumento de pessoas com anticorpos do tipo IGG, as quais já são consideradas curadas. A terceira e penúltima etapa do estudo foi realizada no último fim de semana, com aplicação de testes rápidos em 14 municípios.
Coordenador da pesquisa, o médico infectologista e professor Marcelo Carneiro avalia o cenário identificado pela pesquisa de forma positiva. “É um excelente resultado, porque estamos vendo que a soroprevalência do vírus tem aumentado na região, mas a maioria das pessoas não tem sintomas”, observa. “As pessoas estão adquirindo a doença de forma leve e se curando sozinhas, sem procurar o serviço de saúde.”
É justamente por isso que, segundo ele, a estimativa do número de pessoas infectadas com coronavírus é muito maior do que os números oficiais apontam. A região 28 – que abrange a região de Santa Cruz do Sul no Mapa do Distanciamento Controlado do Estado – tem incidência de 700 casos de Covid-19, para cada 100 mil habitantes, conforme dados da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul. Pelo apurado na pesquisa do Cisvale, no entanto, a incidência é de 3.293 a cada 100 mil pessoas – um número quase cinco vezes maior.
“O Estado computa dados de pessoas que buscam o serviço de saúde e realizam o teste, mas, na pesquisa, abrangemos inclusive pessoas que nem sabiam que tiveram a doença. Por não terem sintomas ou terem um quadro leve, muitas não procuram atendimento. Por isso, a estimativa do número de pessoas que já tiveram contato com o vírus é muito maior do que a oficial”, explica o coordenador do estudo. “Para cada caso existente notificado, aproximadamente, há cinco casos não notificados”, detalha.
Máscara
Para o infectologista, este fato reforça a necessidade de as pessoas seguirem com as medidas de prevenção, como utilizar máscara e evitar aglomerações. “A grande maioria das pessoas adquire a doença e não sabe. Essa é a principal justificativa para o cuidado, porque elas estão transmitindo para os outros sem saber”, ressalta.
Carneiro salienta, inclusive, a importância do uso de máscara dentro no ambiente domiciliar, no caso de pessoas que moram com idosos, que têm mais risco de desenvolver quadros graves de Covid-19. Conforme apurado pelos pesquisadores, 24,5% das pessoas identificadas com resultado positivo para coronavírus tiveram familiares diagnosticados com a doença. “Só porque se está no ambiente familiar, se relaxa nos cuidados, mas existe um risco de contágio muito alto dentro dos domicílios. Muitas pessoas que morreram na região pegaram doença dos seus familiares”, alerta.
“Percebemos um avanço no número de pessoas identificadas com anticorpos IGG do coronavírus, que mostra que elas já está estão curadas. Esse resultado é muito positivo. A maioria das pessoas não tem sintomas, a taxa de letalidade na região é muito baixa, uma das mais baixas do estado, o que nos coloca numa situação muito controlada.”
MARCELO CARNEIRO – Médico infectologista e coordenador da pesquisa
Saiba mais
- O número estimado de pessoas que já foram infectadas pelo coronavírus no Vale do Rio Pardo, conforme pesquisa do Cisvale é 11.827. O número é calculado a partir de uma prevalência de 3,3%. A prevalência geral, considerando as três etapas da pesquisa, é de 2,8%.
- Dos 1.063 testes aplicados na terceira etapa da pesquisa, 33 deram resultado positivo. Em Venâncio Aires, foram oito.
- A taxa de letalidade (mortes) por Covid-19 estimada no Vale do Rio Pardo, conforme a pesquisa é de 0,3%. O índice é nove vezes menor do que a do Rio Grande do Sul.
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