
Você já ouviu falar da Síndrome de Noé que se desenvolve nos seres humanos? Os afetados reúnem animais domésticos de maneira obsessiva, como uma coleção. Muitas vezes, os bichos acolhidos por essas pessoas acabam em piores condições que as da rua, já que não recebem o mínimo dos cuidados que necessitam. Em Venâncio Aires, existe um caso grave de uma pessoa idosa portadora da síndrome e que mantém 36 cães doentes e debilitados na própria residência. Alguns deles foram recolhidos da rua e outros pegos dos próprios vizinhos.

O caso é monitorado pela Organização Não Governamental (ONG) Amigo Bicho desde sexta-feira. Na página do Facebook, a ONG postou que os animais estão acondicionados em cubículos de 1m x 1m e não recebem banho desde setembro. Além de muito calor na residência, muita sujeira. De acordo com a presidente da Amigo Bicho, Naís de Andrade, no espaço, há uma quantidade de fezes muito grande, o que causa um odor forte.
Como os animais se encontram em estado crítico, a ONG pede todos os tipos de doações, como rações, medicamentos, shampoos, sabonetes, arames, coleiras, casinhas, telhas, entre outros. Mais informações podem ser obtidas por meio da página da Amigo Bicho no Facebook. Existe a possibilidade das doações serem entregues às voluntárias da entidade ou deixadas em pontos parceiros, como Vida Pet e Agro Recanto. O dinheiro pode ser depositado na conta da Caixa Federal Agência 0529, conta 95850-4, operação 13.
EM ATENDIMENTODe acordo com Naís, os animais devem continuar no mesmo local, mas serão melhor acomodados e receberão os cuidados necessários. “Nós não podemos tirar os animais da pessoa, porque ela disse que não vive sem eles e ameaçou tirar a própria vida”, comenta. Não apenas os cães, mas a portadora da síndrome também receberá acompanhamento. Naís ressalta que a ONG buscou ajuda de uma psicóloga que irá até a casa para oferecer atendimento e encaminhar ao tratamento.
Segundo Naís, de acordo com informações recebidas, a pessoa apresenta a doença há mais de dez anos e o caso chegou à ONG quando um parente de outra cidade fez uma visita e se apavorou com os 36 cachorros, bem como, com as condições a que eles se submetiam. Os familiares, segundo ela, já tentaram ajudar, mas não obtiveram sucesso, já que a pessoa não abriu mão dos animais.
A presidente da entidade ressalta que tem conhecimento de mais duas pessoas em Venâncio que apresentam a síndrome, mas nenhum caso chega a ser como o mencionado. De acordo com Naís, portadores da Síndrome de Noé costumam ser mais isolados da sociedade: “Muita gente acha que são relaxadas e por isso eles acabam sofrendo um certo preconceito”. Além disso, complementa: “Essas pessoas pensam que com elas os animais estão sendo bem cuidados, porque não confiam nos outros e não querem que ninguém cuide. Acham que é um bem que estão fazendo”, comenta.
APREçO AOS ANIMAISDe acordo com a psicóloga de Venâncio Aires, Susan Artus Dettenborn, a síndrome costuma desencadear o apreço pelos animais, normalmente gatos e cachorros, sem descartar outras espécies. Entretanto, a necessidade de acolher estes bichos se torna desenfreada e a pessoa nem percebe que acumula: “Para ela, está acolhendo e cuidando”.
Susan ressalta que é comum apenas perceber que a pessoa é uma ‘acumuladora’ de animais quando a quantidade resgatada ou adotada se torna insustentável, ou seja, não se tem mais condições de cuidá-los.
A pessoa portadora da síndrome, por exemplo, não apresenta uma característica visível, mas o comportamento protetor pode dar indícios de que ela tenha esta patologia. Situações como a de não ter mais relações sociais é uma característica da doença, porque a pessoa vive apenas em função do número excessivo de animais. A síndrome também pode acarretar um prejuízo à condição de vida, o que pode fazer o indivíduo ter o físico adoecido, além do psicológico que também é comprometido.
AçãO PROTETIVAA psicóloga comenta que o portador da patologia não tem consciência de que possui a doença, mesmo que as demais pessoas falem, justamente porque vê no próprio comportamento uma ação protetiva.
A doença, considerada comum, tem tratamento e, conforme Susan, é necessário um acompanhamento com a pessoa nestas condições, o que pode incluir psicoterapias diversas – medicamentosa inclusive. Contudo, o importante é conseguir auxiliá-la a perceber que aquilo que ela vive causa prejuízos aos animais e a ela também. “O processo pode ser longo, principalmente pelo fato da pessoa doente ter a crença de que o que ela está fazendo é para cuidar e proteger. Em algumas vezes, pode requerer internação para iniciar o tratamento”, destaca.
O que fazer?De acordo com a psicóloga de Venâncio Aires, Susan Artus Dettenborn, às vezes retirar os animais do portador da doença é o processo mais longo que tem, porque ela, ao perdê-los, pode adoecer de forma muito grave. Diante disso, a retirada precisa ser ordenada e gradativa, isso se não houver condições de melhorar a situação em que os animais se encontram no local. “Os protetores, os veterinários e demais voluntários conduzem os casos da maneira mais ordeira possível”, complementa.