A próxima terça-feira, 19, marca mais um capítulo importante da história da centenária Sociedade de Leituras. A reunião liderada pelo Conselho Fiscal elegerá uma comissão provisória para administrar a entidade que, desde o dia 28 de fevereiro está oficialmente sem diretoria, após renúncia coletiva do grupo anterior.
É o momento de alinhar ações e tomar decisões para o futuro entidade que, no próximo mês, completa 132 anos. Há uma década, o clube tinha mais de 1,6 mil associados. Hoje, são 16 com pagamentos em dia, de 95 cadastrados, segundo informação apurada pela reportagem.
Membro do Conselho Fiscal, o empresário Walter Bergamaschi é quem vai liderar a assembleia marcada para as 19h da próxima terça-feira. No mesmo encontro será apreciado e apresentado o balanço financeiro deixado pela gestão renunciante. Segundo ele, existe a possibilidade do mesmo grupo que será formado na noite e que composto por cinco membros, formar a futura diretoria. Ele antecipa que, inclusive, já existe a indicação de uma chapa, mas o nome pode ser apresentado somente na reunião. “Me prontifiquei a ajudar, mas não serei o candidato a presidente”, informa.
Após a assembleia, a comissão terá um prazo máximo de 60 dias para convocar a eleição da diretoria executiva. “Devemos preconizar o que diz o estatuto. Não há nenhum desespero ou acefalia no clube”, destaca. Bergamaschi observa que a gestão termina no dia 31 de dezembro, portanto, o novo e futuro presidente será eleito para completar a gestão (que é bianual) e depois poderá concorrer novamente, se assim desejar.
DESAFIOSEnquanto uma nova diretoria não é eleita, os membros do Conselho Fiscal vêm se esforçando para colocar tudo em ordem e garantir um futuro promissor para a sociedade. “Eu tenho me esforçado para isso. Vamos nos organizar e tenho convicção, ou melhor, tenho certeza, que vamos reabilitar o Clube”, frisa.
Otimista e ‘com pés no chão’, Bergamaschi pontua a necessidade da colaboração de todos os associados. Para ele, o apoio não pode ficar apenas na esfera do discurso. “Muitos dizem que gostam do Clube. De fato, é um nome forte, tem uma história que não pode ser esquecida.”
O empresário relata que tem recebido muitos contatos de pessoas, inclusive de não associados querendo ajudar. Após os processos burocráticos – que segundo o conselheiro é a prioridade no momento – é preciso pensar em uma campanha de revitalização do clube. “Temos que incorporar um programa para alavancar recursos.”

“Não basta só ter amor ao Clube, precisamos de ajuda. Todo mundo quer que o Clube siga, mas pra isso precisamos fazer alguma coisa concreta.”WALTER BERGAMASCHI
História1 A Sociedade de Leituras foi fundada em 30 de abril 1887 – antes mesmo de Venâncio Aires ser oficializado como município. Na época – da freguesia de São Sebastião – a denominação era em alemão: Leseverein.
2 A entidade já abrigou biblioteca e sessões de cinema. Durante uma época o Leseverein foi denominado de Clube Comercial. Apenas em 1968 que voltou a ser denominada de Sociedade de Leituras.
3 A sociedade nasceu com a finalidade específica de, conforme seu estatuto, ‘cultivar a educação científica popular por meio de leituras de boas revistas e obras, assim como instruções narrativas’.
Fonte: Livro Abrindo o Bau de Memórias e Arquivos Folha do Mate
A proposta de unir as sociedades
Uma das sugestões para auxiliar na manutenção e continuidade dos trabalhos da Sociedade de Leituras e que voltou a ser comentada nesta semana é a fusão da Sociedade Olímpica de Venâncio Aires (Sova) com a Sociedade de Leituras. A proposta já foi debatida em 2015 e incluiria a Sede dos Motoristas e o Grêmio Recreativo Sete de Setembro. A inspiração vem da cidade vizinha, Santa Cruz do Sul, onde ocorreu a fusão do Sport Clube Corinthians e Clube União, surgindo o União Corinthians.
Quem recorda e vivenciou de perto a discussão sobre uma possível fusão é Airton Etges. Conselheiro da Sova e sócio-honorário do Leituras. Na década de 80 ele chegou a presidir o Leituras, assim com esteve à frente da escola de samba Malandros do Ritmo, em sua antiga formação.
Etges acompanhou a visita em Santa Cruz do Sul como membro do Conselho da Sova. Na época, trouxe dados e documentos que pudessem auxiliar a diretoria, mas o assunto não avançou. Uma das sugestões discutidas era de tornar a Sede dos Motoristas a referência como clube campestre; o Sete teria parte da área vendida e outra locada visando uma fonte extra de receitas e; os demais atrativos seriam divididos nas estruturas da Sova e Leituras. “Neste formato, o sócio se tornaria frequentador de todos os espaços e não apenas de um. Isso foi discutido, mas não avançou.”
Na visão dele, “os tempos mudaram’ e o comportamento social também. “Hoje muita gente vai para a praia, por exemplo, antigamente não era assim.” Ele cita como exemplo recente no enfrentamento das dificuldades, a AABB que passou a abrir a possibilidade da comunidade em geral se associar, enquanto antigamente era voltada apenas para funcionários e dependentes do Banco do Brasil.
Acompanhando as discussões atuais envolvendo o Leituras, o ex-presidente mantém a opinião de que a fusão seria uma saída. “Clube e Sova, pelo menos, deveriam se unir, mas sei que é difícil.” Outra sugestão dele seria a Prefeitura assumir a gestão e tornar o espaço um centro de cultura, biblioteca e eventos. “Solução tem. Temos que unir forças e entregar mais para a sociedade em termos de lazer.”
“Basta boa vontade. Eu vejo as pessoas falando em demolir o prédio principal do Leituras. Não podemos fazer isso com a história de Venâncio.”AIRTON ETGESEx-presidente do Leituras
Fusão de sociedades: “Vejo isso muito remotamente”
Para o membro do Conselho Fiscal, o empresário Walter Bergamaschi, a proposta de fusão é vista como algo remoto, ou seja, distante de acontecer. Na opinião dele, em primeiro lugar é preciso “curar a doença do paciente”, para depois encontrar outros caminhos. “Vamos tentar resolver o problema atual baseados no estatuto, depois buscar retomar os trabalhos e atividades junto com associados. Temos que ampliar e estimular a vinda de novos sócios e depois, neste caminho, se encontrarmos dificuldades, daí sim poderemos analisar alternativas.”
Para ele, em um prazo de 60 a 90 dias já será possível obter uma ‘nova fotografia’ da Sociedade de Leituras, a partir dos trabalhos da futura diretoria. “Tenho tranquilidade para dizer, aguardem. Continuem com esse carinho pelo Clube, sejam esperançosos. Eu vou contribuir no que eu puder e tenho certeza que a nova diretoria vai resolver a situação definitivamente.”
Um patrimônio do Município?Uma das ideias que chegou nesta semana à redação da Folha do Mate sugere que o Leituras seja tornado um patrimônio público municipal e, desta forma, a estrutura da Sociedade de Leituras abrigue espaços para exposições, ensaios musicais e teatrais, biblioteca, corais, entre outras propostas culturais.
Segundo o prefeito Giovane Wickert, a Prefeitura está à disposição para colaborar no que for preciso, mas entende que é preciso seguir, primeiro, o que diz o estatuto e, junto com os associados, encontrar as melhores alternativas. “A sociedade sabe que a Administração está à disposição. Não seremos omissos, mas também não queremos interferir. Daremos o suporte que for necessário para que a sociedade permaneça aberta. Torná-la um patrimônio municipal seria um dos últimos recursos”, opina.