Que a parceria entre escola e família é fundamental para garantir o desenvolvimento adequado do aluno todo mundo sabe. Mas, qual é o papel de cada uma para garantir o bem-estar do estudante e assegurar que as atribuições da outra sejam respeitadas?
“Embora elas sejam parceiras, é preciso deixar claro que quem faz a primeira formação do ser humano é a família. é ela que tem o dever de trabalhar os valores”, define a pedagoga Alice Theis. Com experiência de 43 anos de magistério, a professora percebe que, com o passar do tempo, os pais passaram a “empurrar” para o colégio a responsabilidade de estabelecer limites e ensinar valores como respeito, a honestidade e a responsabilidade – atribuições da família.

“A escola vai auxiliar no desenvolvimento das habilidades, dos valores humanos; vai ampliar o grau de entendimento e de vivência desses valores, porque a criança estará em um grupo maior, mas cabe à família colocar esses valores desde a infância. Os pais precisam ensinar o que é certo e errado, estabelecer limites.”
Alice Theis, pedagoga
De acordo com Alice, quando isso não ocorre, a qualidade da educação oferecida na escola é colocada em xeque. “Se a criança não tem o pai e a mãe como autoridade não vai respeitar a autoridade do professor.”
Todas as vezes que os estudantes não fazem a lição de casa ou professor precisa interromper a aula para pedir silêncio ou separar uma briga perde-se tempo reservado ao aprendizado. Essa interrupção tem reflexos na qualidade do ensino. “A escola tem um compromisso sério com o conhecimento. é direito das pessoas terem acesso a ele, e a escola é, geralmente, o espaço onde se tem acesso ao conhecimento formal. No entanto, ela tem tido cada vez menos tempo para trabalhar com conhecimento, pois precisa abraçar todo o resto”, observa a pedagoga.
Para Alice, enquanto essa realidade não se alterar, será impossível melhorar os índices da educação. “é preocupante o pouco tempo reservado para o conhecimento, em sala de aula. O conhecimento é libertador, faz com que possamos ampliar horizontes, enxergar melhor. Precisamos proporcionar isso para nossas crianças”, salienta.
Limites: um desafio
Apesar de os limites serem essenciais para a educação das crianças, Alice reconhece que é difícil estabelecê-los, em uma sociedade que não os favorece. “Prega-se um mundo de facilidade, impunidade e consumismo, que impõe padrões à criança que não sabem diferenciar o que é certo e errado”, comenta. “Nessa sociedade conturbada, muitas famílias se fragilizam, encontram dificuldades de saber o que é prioritário e perdem o foco.”
“Tento ensinar a Duda a ser uma pessoa boa, a ter um bom coração”
Quando o assunto é a educação da filha Maria Eduarda Herdina Martins, 10 anos, a funcionária pública Deise Giane Herdina, 30 anos, não abre mão do diálogo. é por meio de conversas, do exemplo e de atividades que divide com Duda que ela busca repassar à filha valores como educação, gentileza, respeito, honestidade e solidariedade. “Nosso lema é: não faça aos outros o que não queres que te façam. Isso funciona para tudo. Tento ensinar a Duda a ser uma pessoa boa, a ter um bom coração.”

Para Deise, a conversa é a principal forma de fazer isso, mesmo que, nos primeiros anos de vida a criança não entenda toda a explicação. “Isso demonstra o amor, a dedicação e a preocupação. Mostra que tu não estás apenas sendo autoritário”, acredita. “Também acho importante não só exigir respeito da criança, mas também respeitá-la”, complementa.
Além do diálogo e do exemplo, tarefas como secar a louça, colocar o lixo na rua e cuidar de animais de estimação são formas de aprendizado para Duda, que está na 5ª série do ensino fundamental da Escola Estadual de Ensino Médio Monte das Tabocas. Desde o ano passado, a garota também participa do grupo de escoteiros, no qual desenvolve autonomia, trabalho em grupo e cuidado com o meio ambiente, entre outros valores.
Educação vem de casa
A exemplo do que a pedagoga Alice Theis define como papel da família, Deise acredita que a educação deve vir de casa.
“Não se pode esperar que os professores ‘deem um jeito’ na criança. Professor ensina matérias e reforça os valores que os pais devem passar para a criança. Ela deve ir para a escola sabendo como se comportar, seguir regras, respeitar professores, colegas e funcionários. Isso também facilita o processo de aprendizado.”
Deise Giane Herdina, mãe.
Ao mesmo tempo, a mãe da Duda percebe a importância de a família demonstrar interesse pelo desenvolvimento da criança na escola. “é importante conversar com os professores e estar aberto a sugestões e opiniões. Eles têm muita experiência e podem identificar dificuldades que os pais, às vezes, não percebem.”
Coloque em prática
Conforme a pedagoga Alice Theis, hábitos simples praticados pelas famílias auxiliam no desenvolvimento de valores, nas crianças. O diálogo entre pais e filhos é primordial. Alice explica que, embora, antes dos dois anos, as crianças não entendam totalmente as explicações dos pais, elas percebem o certo ou errado conforme o tom de voz utilizado pelo pai e pela mãe. “Com quatro anos a criança já tem consciência do que é certo ou errado, ela já entende os conceitos de autoridade e limites.”
Estabelecer regras; mostrar que a autoridade, em casa, são os pais; e fazer com que a criança se sinta parte da família, por meio de tarefas como arrumar os próprios brinquedos são formas de estabelecer limites e ensinar valores aos filhos. “é muito importante os pais conversarem com as crianças, olharem, ouvirem e darem atenção a elas”, orienta Alice.