Comemoram-se hoje os 30 anos da queda do infame Muro de Berlim. Um momento histórico do século passado. Não era somente um símbolo da divisão de poder em Berlim, na Alemanha e no mundo: a proibição em trespassá-lo causou um sem número de mortes, não se sabe exatamente quantas – ah, nada como bloquear ou mascarar a informação, não é? Fique atento a isso na hora de defender supostos heróis do passado, que bem sabiam usar tal tática e estavam num contexto bem mais favorável para tanto do que estariam hoje. O que os olhos não veem, o coração não sente, afinal.
A queda
Pouco mais de meio ano após a queda do famigerado muro, Roger Waters aproveitou com maestria o momento para executar, na íntegra, o espetáculo The Wall, que escrevera ainda em seus dias de Pink Floyd. Um show transmitido ao vivo para todo o mundo que tratava, veja só, sobre um muro, numa metáfora com o isolamento do personagem central da obra – um alter ego do próprio Waters. Um showzaço cheio de convidados ilustres da época, como Cyndi Lauper, Bryan Adams e os nativos do Scorpions – que chegaram de limusine. Uma celebração majestosa da virada de importante página da vida naqueles dias, com ainda mais feridas pós-Segunda Guerra à espera da cicatrização.
Comédia e tragédia
Meu não testemunho daqueles fatos – nasci precisamente no dia seguinte à queda do muro – me fez tentar imaginar situações análogas nos dias de hoje, em que a ameaça da construção de outro muro, na fronteira dos EUA com o México, persiste. Neste interim, deparei-me com um texto da página Rock Venusiano, sobre um show, digamos, surpresa, cortesia das bandas Pantuphine Kozmic Blues Band e Exilados do Sudão em 86, na Praça da Matriz de Sebastianfield. Basicamente, os guris acharam uma tomada dando sopa em algum canto da praça em plena tarde de domingo e resolveram tocar. Causaram o maior rebuliço – lembre-se, o centro era movimentado em outras épocas. O rendez-vous foi tamanho que um dos músicos, ao chegar ao trabalho no dia seguinte, encontrou seu superior a lamentar por ver tantos ditos maconheiros, arruaceiros e afins num lugar reservado à família. A história sempre se repete.
Pensamentos free jazz
Será que seríamos capazes de ver momentos de algum modo similares ainda hoje? O Rage Against the Machine anunciou nova reunião nesta semana. Poderia o grupo de Tom Morello, no futuro, realizar um show para comemorar a queda – ou a não construção – do muro de Donald Trump? Ou que tal um show de Thomás Lenz e alguns amigos em pleno centro moribundo da cidade, com Sandoval Wildner a chegar ao palco em sua Harley Davidson e Tiago Wachholz pulando de um balão, talvez para celebrar o fim da famigerada bíblia gigante? Nunca duvidemos da capacidade da vida em nos surpreender. Pelo contrário: acreditar faz bem. Fazer coisas impensáveis, ainda mais.
Três acordes
# Ainda sobre o rock local nos anos 80: os Exilados fariam coisa similar ao show da Praça logo depois, em 87, quando tocaram no telhado da garagem da casa de um amigo, na rua Osvaldo Aranha – que, sim, já era a principal da cidade.
# Até o policiamento precisou ser chamado para controlar o trânsito, enquanto a população que passava pelo local tentava compreender o que acontecia. Está tudo no capítulo 2 em rockvenusiano.wordpress.com.
# Como já expliquei aqui, torço pelo sucesso do show de Michel Teló no Festival de Balonismo, mesmo achando-o muito ruim. A melhor pedida do evento está na sexta, das 17h às 22h, com shows em sequência do especial Rock Brazuka, Mastodonte e encontro do Rock Gaúcho, com Alemão Ronaldo e Rafael Malenotti.