A guerra política das vacinas na Europa

Quando o Reino Unido anunciou a autorização da vacina Pfizer em dezembro passado e em seguida iniciou o plano de vacinação nos idosos e profissionais da saúde, os líderes da União Europeia se depararam com uma série de questionamentos. Os europeus também queriam a vacina mas a UE estava trancada em sua usual burocracia. Eles demoraram na assinatura de contratos com os laboratórios e presumiram, erroneamente, que vários imunizantes estariam prontos de uma só vez, repartindo seus pedidos. Enquanto o Reino Unido, Estados Unidos e outros países corriam para selar acordos com fabricantes de vacinas, a UE primeiro garantiu que todos os 27 países-membros concordassem com os termos das negociações.

Além disso, o órgão regulador europeu levou mais tempo que os vizinhos britânicos para autorizar o uso das vacinas. A Europa priorizou o processo e está pagando caro pela opção escolhida. E assim, quando se deram conta de que não teriam vacina suficiente, iniciou-se um conflito político na corrida pelos imunizantes. E na mídia social continuamos a ser bombardeados com informações acerca dos contratos assinados entre os governos e fabricantes e na última semana sobre os possíveis efeitos colaterais da vacina da universidade de Oxford (AstraZeneca). O bloco fechou acordos no ano passado com seis fabricantes de vacinas —Pfizer/BioNTech, AstraZeneca, Moderna, CureVac, Johnson & Johnson e Sanofi-GSK—, garantindo acima de dois bilhões de doses, mais que suficiente para os 450 milhões de habitantes.

No entanto, a produção para a UE não aconteceu como programado e já que a maioria dos laboratórios está situada em países do bloco, alguns governantes decidiram interromper a exportação de vacinas para outros países. Na Itália, por exemplo, onde foram produzidas milhares de doses da AstraZeneca com destino à Austrália, o governo bloqueou o envio da vacina aos australianos. Na fábrica da Bélgica a UE cogitou inclusive a produção exclusiva para os países europeus, mas logo voltou atrás na decisão quando se deu conta de que não poderia interferir com os contratos comerciais assinados bem antes que a União Europeia.
Com a incerteza do fornecimento de milhões de doses da vacina AstraZeneca prometidos para o final de março, os europeus parecem ter iniciado uma guerra contra o imunizante. Dos problemas logísticos passaram ao maior problema que enfrentam atualmente, o ceticismo. Logo no início de janeiro a Alemanha questionou a eficácia da vacina do laboratório anglo-sueco e recomendou o uso somente para a população abaixo de 65 anos apesar de a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) já ter aprovado seu uso para todas as faixas etárias. Semanas mais tarde a autoridade alemã reverteu a decisão mas o dano já estava causado, e os alemães se recusavam a tomar a vacina Oxford-AstraZeneca. O presidente francês Emmanuel Macron chegou a dizer que a vacina era “quase ineficaz” para pessoas acima de 65 anos e mais tarde o governo francês também decidiu administrar o imunizante nos idosos.

Se não bastasse a falta de confiança das autoridades, supostos efeitos colaterais da vacina de problemas de coágulos no sangue e morte por trombose se propagaram na Europa e mundo afora, com teorias da conspiração sendo recontadas por toda parte. E assim, começa, novamente, uma guerra de desinformação e a maioria dos países europeus acaba interrompendo a administração da vacina AstraZeneca durante algumas semanas atrasando ainda mais o processo de imunização. Na última quinta-feira 18 de março a Agência Europeia de Medicamentos confirmou que a vacina da Universidade de Oxford e da AstraZeneca não está associada ao aumento no risco de casos de trombose e embolia e a maioria dos países reiniciou a vacinação. O mais incrível é que os mesmos efeitos colaterais foram identificados em pessoas que tomaram a vacina Pfizer mas nem por isso os europeus pararam de administrá-la. Por quê? Talvez porque a UE sabia que não receberia as doses prometidas da AstraZeneca para o final de março e resolveu questionar a eficácia do imunizante ao invés de ter de explicar aos europeus que eles estavam no fim da fila da inoculação. Talvez o nacionalismo alemão prevaleceu já que foi um casal de alemães que criou a vacina Pfizer. O tempo nos dará a resposta. A verdade é que a UE falhou em seu programa de vacinação e a Covid continua ceifando vidas. A única solução é a vacina. Não existe medicação sem riscos.

Enquanto isso no Reino Unido mais da metade da população adulta do país já foi imunizada usando as vacinas da Oxford e da Pfizer. Nesta semana eu também fui chamada para fazer a minha, sábado à tarde!

Chimarrão na neve

Em pleno março, e a primavera parece cada vez mais distante pois continua a nevar em Vilnius. Na última semana a temperatura negativa retornou e os flocos de neve cobriram a paisagem na capital lituana. E o chimarrão bem gaúcho continua a nos aquecer.

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