Se uma catástrofe climática não tivesse atingido o Rio Grande do Sul, estaríamos vivenciando, neste fim de semana, a 17ª Fenachim. Faltando apenas uma semana para o aniversário de 133 anos de Venâncio Aires, o clima está longe de ser de festa. Por aqui, inicia-se uma verdadeira reconstrução. “Praticamente é riscar do calendário e colocar assim: ‘ano número um’.” A frase é do prefeito de Venâncio Aires, Jarbas da Rosa. Emocionado, admitiu ao vivo em entrevista à Terra FM, que serão necessários alguns anos para voltar tudo ‘aos trilhos’. Nesta semana, junto a 264 municípios gaúchos, a Capital do Chimarrão escreve um dos mais tristes e dolorosos capítulos que o povo gaúcho já vivenciou: a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul.
Em Venâncio, mais de 430 milímetros de chuva foram registrados nos últimos dias. A água chegou a lugares inimagináveis, o que acarretou em duas enchentes no município: uma do arroio Castelhano, que inundou bairros e parte do Centro, e a enchente do rio Taquari, que deixa marcas sem precedentes nos distritos de Vila Mariante e Estância Nova. É tanta água, que na área urbana, a costa do arroio ficou toda submersa e surpreendeu até quem vive há quatro, cinco décadas no mesmo endereço. A alguns quilômetros dali, Vila Mariante ‘desapareceu’ e ainda não sabemos o que esperar quando a água recuar.
Com a força da água, casas, estradas, pontes, empresas, escolas e lavouras foram completamente destruídas. Mas, além dos danos físicos, a comunidade convive com um impacto emocional. E como não? É a terceira enchente da região em menos de oito meses.
A água levou mais do que móveis e paredes. Levou documentos, história de lugares, de lares, de entidades que, com muito custo, se mantêm (ou se mantinham) de pé. Levou fotografias, documentos e recortes de jornal. Levou animais de estimação e objetos que foram presentes de pessoas queridas. De alguma forma, também levou embora a esperança das pessoas que residem há décadas no mesmo local e nunca viram a água chegar tão longe e tão alto.
É hora de reconstruir, mas nada se faz sozinho. O especialista em Desastres Naturais ouvido pela reportagem da Folha do Mate deixou claro que temos um grande tema de casa pela frente se quisermos evitar efeitos cada vez mais devastadores.
As três grandes enchentes em sequência, em menos de um ano, ligam cada vez mais o sinal de alerta. Estamos vivendo eventos climáticos com uma frequência cada vez maior. Os municípios precisam atuar de forma integrada, planejada e inteligente para evitar tragédias. Esse plano não pode ser de um governo, mas de Estado. É preciso repensar a ocupação das cidades e a forma como estamos cuidando da mãe-natureza. Com seriedade e colaboração.