Na semana passada, o número de likes desapareceu em postagens do Instagram, com o objetivo que os seguidores se concentrem mais nas fotos e vídeos compartilhados do que na quantidade de curtidas.
A mudança dividiu a opinião da galera. Há quem concorde que, sem mostrar a quantidade de likes, diminui a competição e a pressão das postagens. Por outro lado, há quem acredite que isso prejudica quem atua como influencer.
Nós compartilhamos essas dúvidas e nos perguntamos: como ficam as coisas sem os likes? Quais os pontos positivos e negativos dessa mudança? Para estimular a reflexão sobre o assunto, ouvimos a opinião de jovens e fomos buscar as respostas com quem entende do assunto – tanto do uso das redes sociais quanto da influência no comportamento e na autoestima.
Os likes sumiram. E agora?
Desde o ano passado, o Instagram vinha anunciando a ocultação do número de curtidas nas publicações. No entanto, somente na semana passada isso começou a ser colocado em prática.

Pesquisador sobre Tecnologias Digitais, o doutor em Comunicação e professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) Willian Fernandes Araujo, 32 anos, explica que, com o surgimento de marcas e influenciadores digitais na plataforma do Instagram, principalmente, esses segmentos começaram a utilizar os likes como identificadores de visibilidade e tornou-se fácil conseguir curtidas a partir de outros aplicativos, compra de seguidores ou a sistemática de troca de likes.
“A retirada disso tem como objetivo uma transformação na cultura da plataforma”, considera. Mas, o que muda, de fato, para quem é marca ou influencer no Instagram? Para o professor Willian, muda a forma de mensuração e faz com que as pessoas produzam mais conteúdo e interajam mais.
“O que está acontecendo é uma mudança, o que vai contar cada vez mais agora é a produção de engajamento genuíno. O like é uma forma de engajamento mais superficial porque basta a pessoa ir ali e clicar, e, em tese, ela demonstra que a pessoa tem interesse por aquilo”, explica.
Na opinião do doutor em Comunicação, essa mudança não deve influenciar quem trabalha com o Instagram e produz um bom conteúdo. “Vejo essa mudança como algo que vai reorganizar as estratégias de visibilidade dentro da plataforma”, diz.
De acordo com o professor, assim, o Instagram passa a exigir daqueles que trabalham com a ferramenta, mais interação com seu público a partir de conteúdo, compartilhamento, hastags. “Cada vez isso será mais importante na plataforma.”
“Não muda em nada minha vida”
Yasmin Mansour, 26 anos, é influencer digital e usa o Instagram para divulgar seu trabalho. Ela comenta que as mudanças em redes sociais ocorrem há muito tempo. “Logo quando muda não gostamos e reclamamos, mas nossa geração tem facilidade em se adaptar.”
Ela lembra que ainda existem pessoas que se prendem a números no Instagram e considera que isso pode levar a frustração e causar ansiedade. Na opinião dela, o importante são as propostas que o influencer apresenta e o engajamento. “Por saber que os números não são a coisa importante da rede social, eu sou a favor dessa mudança”, ressalta.
Os dois lados
Luiza Costa, 22 anos, usa o Instagram para divulgar seu trabalho no Youtube. Para ela, é preciso ver os dois lados da mudança. A guria acredita que o aspecto positivo é a diminuição na competição que o Instagram gera em likes.
Entretanto, para ela, o lado negativo vai ser fechar parcerias sem mostrar publicamente o engajamento, o que era mais fácil pelos números. “A falta dos número pode nos desfavorecer na hora de fazer novas parcerias”, comenta.
O poder das curtidas
Postar fotos nas redes sociais já faz parte do dia a dia da gurizada. Uma pose aqui e outra ali. Uma vai para o stories e outra vai ser a escolhida para ‘bombar’ no feed. Este comportamento já é natural. Porém, segundo a psicóloga Deise Frantz Nagel, nem tudo o que é tornado público é real, porque por trás das coisas boas há também as ruins. “Há um excesso de pressão social nas redes sociais de que todo mundo é feliz, viaja e come bem, mas nem sempre é tudo isso que acontece”, salienta.

De acordo com ela, para os jovens que têm a identidade em formação, este comportamento é uma referência e pode prejudicar a saúde emocional. “Se comparar com os outros traz insegurança e reduz a autoestima”, observa.
Deise acrescenta que as postagens nas redes sociais podem ser positivas desde que a ferramenta seja utilizada de forma correta. “Os usuários podem curtir e postar, mas as redes sociais não podem ser um modelo para a vida. O excesso é que se torna prejudicial”, considera a psicóloga.
Ela comenta que algumas pessoas, por exemplo, saem para viajar e em vez de aproveitar o momento ficam pensando no melhor ângulo para as fotos. “Elas não vivem mais o momento e usam as redes sociais para se sentirem incluídas.” Neste caso, as fotos trazem a sensação de pertencimento. “As pessoas se acham bonitas, passam a fazer parte do mesmo padrão dos outros mas não percebem que nem sempre o que estão postando é realmente aquilo que gostam de fazer”, ressalta.
As expectativas após a publicação também podem gerar ansiedade. “Assim que as fotos são postadas, os jovens mantêm muitas expectativas porque esperam um número ‘x’ de curtidas ou que alguém, em especial, veja a publicação. Isso pode deixá-los mais ansiosos,” reforça a psicóloga.
Dicas da psico
– Postar fotos pode ser legal, mas elas não podem ser um modelo para a vida
– Atenção ao tempo que você dedica às redes sociais. O indicado é não passar o dia inteiro focado no Facebook ou Instagram
– Que tal reduzir as horas de uso das redes sociais e aproveitar mais os momentos reais?
– Não esqueça que o importante mesmo é agir por si próprio e não usar tanto a comparação com os outros