Anos após o fechamento, o antigo Curtume Closs, que funcionou na rua 7 de Setembro, ainda é ponto de referência na cidade. Romeu da Silva, 72 anos, trabalhou durante 35 anos na empresa. Natural de Mato Leitão, ele veio para Venâncio em função do serviço. Conforme ele, o prédio sempre foi simples, o serviço era puxado e no início com condições precárias.
O senhor começou a trabalhar no setor de curtição de couro, segundo ele, um dos piores. Na época, se trabalhava sem proteções. “O serviço era feito só com macacão e botas. Depois, veio o sindicato e colocou normas de óculos, protetores de ouvidos e demais ferramentas necessárias, mas nem todos usavam”. Outra questão que preocupava eram os produtos químicos usados e a água que corria no chão.
A empresa trabalhava durante 24 horas, tinha turno do dia e noite. “Eu começava às 5h e não tinha relógio, então muitas vezes chegava bem antes, eu dormia lá fora e esperava o turno da noite sair. Pela manhã ganhávamos de café um gomo de linguiça”, recorda. Eram cerca de 250 funcionários, depois de um tempo o Curtume começou a fornecer almoço. “O pingão trazia marmitas que eram distribuídas ao meio-dia.”
Entre as lembranças do emprego, Romeu comenta de uma infecção no rim que teve devido aos produtos químicos usados. Porém, ele comenta que foi essa oportunidade que o fez crescer. “Quando vim para Venâncio era muito pobre, fui trabalhando muito, fazia serão, e graças a isso consegui construir minha casa, dar faculdade para os filhos e ter um carro bom. Comecei no curtume no pior setor, fiz cursos e me aposentei como encarregado. Hoje sou uma das pessoas mais felizes do mundo.”

O bar da rua 7 de setembro
Há cerca de 38 anos, a família de Ivone Wiellenz, mora na rua 7 de Setembro. Natural de Linha Chaves, interior de Santa Cruz do Sul, se mudou para Venâncio Aires para abrir o Bar e Armazém 7 de Setembro. Hoje em dia, filhos e netos também moram nas proximidades.
Conforme Ivone, quando vieram para a cidade a região tinha muito banhado, sanga aberta e árvores de pinheiros. A famosa fábrica Curtume Closs já existia, era muito movimentada e trazia freguês ao bar. “Nós tínhamos almoço e alguns funcionários do curtume vinham comer aqui”, diz.
Apesar do movimento que o curtume trazia para a rua e para o estabelecimento, a família comenta que o cheiro era muito forte e algumas vezes os incêndios que aconteciam apavoravam a vizinhança. “Foram mais de três incêndios, mas um deles foi mais forte, corremos para tirar os carros da quadra e fechar a casa. Eu tinha medo de explosão”, relembra Ivone.
A filha Asta Goettems, que atualmente assumiu o bar, lembra que tinham clientes fiéis da fábrica, alguns que frequentavam o local todos os dias, no mesmo horário. Além disso, o modo de venda era diferente. “Tinha um caderno de anotação e no dia de pagamento eles vinham e acertavam as contas. Já sabíamos que muitos viriam trocar o cheque da firma aqui.” A forma de pagamento também é curiosa. “No pátio da empresa eles colocavam uma mesa, os funcionários faziam a fila e recebiam. Dava para ver da rua, era tudo aberto, se fosse hoje já tinham sido assaltados”, destaca.
Para a neta, Alexsandra Schmidt, as lembranças da infância no local são boas. Havia mais liberdade para brincar e menos perigo. “Tinha muitos pinheiros e eu e meus vizinhos brincávamos no meio deles.” Ela também tem memórias do curtume. “Tinha um cachorro muito bravo no curtume e quando ele estava solto todas as crianças ficavam com medo.”
O Bar 7 de setembro é conhecido por ser ponto de encontro entre amigos para assistir futebol, tomar uma cerveja e até almoçar ou jantar. Atualmente, não tem comida todos os dias, porém durante a semana acontecem algumas jantas de turmas de amigos, como galinhadas e feijoadas. Aos sábados, ao meio-dia é tradicional o churrasco dos homens. “O ciclo de amizade que criamos aqui é muito bom, é uma segunda família”, diz Asta.

CURIOSIDADES
- Teve uma época que a família recebia os leites do Curtume pela madrugada, e entregava depois na fábrica
- Ao lado do bar, no mesmo prédio, tem o depósito, mas já foi um açougue, atacado e até uma loja de roupas
- Há 25 anos junto ao estabelecimento, a família tem um ponto de táxi
O CURTUME
Frederico Reinaldo Closs trabalhava artesanalmente com curtimento de couros, utilizados para fazer tamancos, bainhas e selas de cavalos. A Frederico Closs, em 1947, passou a se chamar Reinaldo Closs & Filhos Ltda. Nesta época se dedicava à linha de produção de chinelos e tamancos, em seguida, se especializou em curtição de couro bovino. O nome foi mudado para Curtume Closs em 1961.
Na mesma rua fica a antiga casa da família Closs, que foi construída na época da fábrica é apreciada pela arquitetura e beleza.
Fonte: Livro Baú de Memórias