Muitas pessoas estão curiosas para saber se o prédio das antigas Flórida e Rubra, que fica na rua General Osório com a Assis Brasil foi vendido e qual o futuro do espaço. Há boatos de que o complexo que ocupa boa parte da quadra vai ser um supermercado ou até mesmo um shopping. De certeza, no entanto, só há as histórias das empresas que passaram pelo local.
Ex-funcionário da Fábrica de Cigarros Flórida, Inácio Orci Lücke, 70 anos, lembra que a fábrica iniciou em meados de 1960. Seis anos depois, ele começou como safreiro e foi crescendo na empresa, totalizando 31 anos como funcionário.
Entre as lembranças, comenta que o prédio era menor e, conforme a empresa evoluiu, foi aumentando o espaço físico. “Entrei com 15 anos na empresa e sai com 46 anos, naquele tempo não existiam esteiras, elevadores de caminhão e toda essa tecnologia, era tudo braçal”, ressalta.
Ele conta que, na época, passavam muitos caminhões e ônibus pela General Osório, além dos colonos que traziam tabaco para a empresa. “O fumo era trazido de caroça, na época de muito movimento chegava a ter quadras de filas de caroças, até onde é a Gráfica Alles”, diz Lücke. Outra curiosidade lembrada por Lücke é que, em um ano, durante o período que não tinha safra, os funcionários efetivos fizeram a tela (alambrado) do Estádio Edmundo Feix e doaram para o Guarani. “Eles precisavam passar o tempo, então começaram a trabalhar nisso.”
A Flórida saiu do prédio por volta de 1970, mas continuou no ramo sendo incorporada por outras empresas, dando origem à atual Alliance One. Nos anos 1990, se instalou no local a Refrigeração Rubra, que faliu anos depois.

RUBRA
Lotário Frantz, 55 anos, trabalhou na produção da empresa e tem boas lembranças da época. “Era um lugar bom de trabalhar”, afirma. Ele recorda que o prédio não era novo, pois já, mas estava preservado, bem diferente da situação atual. “Esse prédio deve ser um dos primeiro construídos em Venâncio Aires”, acredita.
No auge do negócio, em 1997, a Rubra era a única empresa de refrigeração da cidade. “ Todo espaço do prédio era a firma, eram muitas famílias que tiravam sustento ali e alguns receberam o dinheiro da saída há dois, três anos”, comenta, ao referir-se à falência da empresa.
Churrascaria e Hotel São Cristóvão
Quando a Flórida estava em pleno funcionamento, em 1970, Hedi Neuhaus Dörr e o marido Arni Almiro Dörr (já falecido) se mudaram de Lajeado para Venâncio Aires, com a intenção de abrir uma churrascaria. O restaurante passou a funcionar em um prédio de dois andares na General Osório, esquina com a Assis Brasil, onde também residia a família.
Aos 89 anos, Hedi conta que a casa tinha e seis quartos e acabou se tornando, além da churrascaria, o Hotel São Cristóvão. O local funcionava de domingo a domingo, até tarde, pois o público que mais frequentava eram caminhoneiros que trabalhavam para a fábrica Flórida. “Os caminhoneiros chegavam a ficar uma semana no hotel, pois tinha fila de caminhões na firma para descarregar o fumo e era tudo manual, não existiam máquinas para ajudar.”
O local, às vezes, chegava a ter hóspedes dormindo em colchões no chão. “No auge da safra, os caminhoneiros chegavam e pediam muito por um lugar para dormir, ficavam contentes até em dormir no chão”, lembra a idosa.
A Churrascaria e Hotel São Cristóvão era conhecida por ser um lugar simples, familiar e aconchegante, era um dos poucos hotéis de Venâncio Aires e, segundo a proprietária, oferecia um preço acessível para todo público. Há cerca de 18 anos o local foi fechado e, atualmente, o prédio está à venda.
Hedi, que hoje mora atrás do antigo hotel, lembra que o tempo em que a família manteve o hotel era uma época mais tranquila, que se vivia com mais segurança. “Eu descia de madrugada para abrir o hotel para alguns hóspedes que batiam ali, não tinha medo nenhum, pois na época quase não havia ladrão”, recorda a idosa.
Além do hotel, no primeiro pavimento do prédio, junto à churrascaria, havia uma pensão. “Muitos jovens do interior vinham cursar o segundo grau na cidade e acabavam ficando na pensão. Eles ajudavam muito nos serviços no período que não tinham aula”, lembra Hedi.
