Tio Beto: o homem que mede o nível do rio Taquari

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A história de vida de Paulo Roberto de Paula, 65 anos, está atrelada à profissão de observador hidrológico. O famoso ‘homem do rio’, ou o ‘tio Beto’, é o responsável por fazer a medição do rio Taquari, em Vila Mariante. É ele que fornece a informação a cada fechamento da edição impressa da Folha do Mate e também para o Serviço Geológico do Brasil (CPRM). “Eu nem me lembro quanto tempo faz. Desde que moro aqui [em Linha Chafariz] com a minha esposa, há uns 20 anos, iniciei com a função de medir o rio.”

Todos os dias, de segunda a sexta-feira, faça chuva ou faça sol, o tio Beto pega seu carro, e anda por aproximadamente um quilômetro e meio até a beira do rio e confere a altura do rio na régua de 15 metros. Esse percurso é repetido às 17h, todos os dias. “Eu cumpro horário, não posso me atrasar”, frisa.

Beto tem certeza que o serviço que ele executa é muito importante. “Ele serve de base para pesquisas e para medir o Taquari. Uns anos atrás até tentaram colocar uma medição eletrônica, mas nem deu certo. Tive que ficar. É meu compromisso”, comenta.

No início, quando o observador hidrológico iniciou na profissão, a medição era enviada por correio, mas como demorava muito, logo adaptaram para as ligações. “Hoje é muito mais fácil, a gente manda tudo pelo WhatsApp.”

Vila Mariante tem uma estação de dados hidrometeorológicos, onde Paulo realiza a medição do nível do Rio Taquari (Foto: Divulgação)

Perdas de enchente

Casado com a costureira Dione da Silva de Paula, 52 anos, o morador do distrito de Vila Mariante assegura que a enchente da última semana foi a maior que já viu. “Eu nunca tinha passado por uma enchente tão grande”, recorda o aposentado.

Dione lembra dos momentos de pavor que o casal passou na noite do dia 8 de julho. “O Beto subiu na cadeira e ficou sentado na guarda e eu tive que subir na escada. Passamos a noite assim. Foi horrível. Foi uma noite longa. Não tinha luz, telefone, nada. Era só esperar.”

Tio Beto conta que em 2001 a água entrou na casa e sujou o assoalho, mas dessa vez, foi diferente. “A enchente estragou tudo. Não sobrou nada. Nossas roupas, colchão, utensílios. Perdemos tudo”, lamenta.

Beto conta que a água tinha uma correnteza muito forte. O carro da família foi deixado no acesso à Vila Mariante, só assim para não registrar perdas com o veículo. “Foi um sufoco, era geladeira querendo virar, a água batendo nos pés em cima da cadeira. Que tristeza. Depois me contaram que a água chegou pertinho lá no ginásio, quase perdemos nosso carro.”

Essa foi a primeira enchente, em 30 anos que o casal perdeu tudo. “Colocamos todas as roupas em cima da cama. Quando olhamos a água já estava ultrapassando a cama”, lamenta Dione. Os cachorros da família também sumiram. A sogra de Beto e o cunhado moram no mesmo terreno, mas a água não chegou no segundo piso da casa. “Naquela noite foi uma aflição. Não conseguimos sair da nossa casa e a minha mãe estava angustiada, querendo saber notícias. Não tínhamos comunicação, mesmo morando tão pertinho”, conta Dione.

Doações

Beto fornece há mais de 20 anos a medição do rio Taquari, em Vila Mariante, para ser publicado na Folha do Mate. Às 17h30min do dia anterior ao da circulação da edição impressa, o diagramador Auri Wagner liga para o observador hidrológico e no dia seguinte os leitores podem conferir o nível do rio atualizado.

Solidarizados com a situação, os colaboradores da Folha do Mate realizaram uma campanha interna para arrecadação de mantimentos, como roupas e um colchão para o casal. Na manhã da sexta-feira, 17, a entrega foi efetuada. “Qualquer doação é bem-vinda, o que não servir a gente passa para os outros. Todos foram atingidos aqui no Mariante, e qualquer ajuda é importante”, agradece Beto.

Folha do Mate realizou a entrega de doações de roupas e colchão (Foto: Alvaro Pegoraro/Folha do Mate)
    

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