Na produção de pimenta, mulheres encontram uma fonte de renda

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Nos fundos da casa da agricultora Carmen Edy Graef, 62 anos, os pequenos arbustos verdes com ‘pintinhas’ vermelhas chamam atenção de quem passa em Linha Cerrito, nas proximidades da comunidade São Pedro, em Venâncio Aires. A produtora cultiva pimenta biquinho e nelas encontrou uma fonte de renda para a família e outras mulheres da comunidade.

A aposta nesse nicho de mercado ocorreu há alguns anos. “Aliávamos a cultura do tabaco, pimenta e pepino. Depois teve um ano que a gente perdeu muita pimenta pois não tinha mercado, dava pena e paramos. Mas, de uns três anos pra cá, fechamos uma parceria com uma agroindústria da comunidade que compra toda nossa produção. Agora temos garantia e investimos”, conta a agricultora.

Nesta safra Carmen plantou cerca de mil pés de pimenta. “Agora estamos no pico da safra. Chegamos a tirar umas 800 gramas por pé, por semana”, conta. Carmen conta com a ajuda da filha, Aline Graef, 40 anos, que voltou para casa após o falecimento do pai, no ano passado.

A colheita ocorre em dois dias por semana mas, para isso, Carmen contrata mão de obra feminina na comunidade. “Já tenho amigas, são mulheres que todo ano me ajudam na colheita e gostam do que fazem, assim como eu.”

A colheita da pimenta na propriedade iniciou em dezembro e se estende até a primeira geada. “É uma planta que não se importa com o calor, mas se der geada ela para de produzir. Por isso, a duração da safra depende muito do ano”, explica a produtora.

Para garantir a produção, as mudas mais novas recebem gotejamento. “Sorte que temos água de vertente para as plantas, assim, as que eu replantei esse ano tenho que molhar nesses dias de calor.”

Em 2019, a agricultora conta que colheu cerca de três mil quilos, uma quantidade boa apesar da seca que afetou as plantas e o número de mudas era menor. Neste ano, a expectativa é aumentar a quantidade de quilos colhidos.

Colheita

Por ser uma planta baixa, a colheita é bastante complicada, segundo a produtora. “Judia bastante, pois ela é baixa e você precisa se agachar. Mas eu não estava contente com isso, e buscamos alternativas.”

Hoje, a colheita é com conforto. Cada mulher recebe uma cadeira de praia e um guarda-chuva preto adaptado na cadeira. “Precisa ser da cor preta pois garante uma sombra melhor. Hoje já adaptamos o guarda-chuva e o amarramos na cadeira, é como se fosse um guarda-sol, pois só assim para ir na lavoura nesse sol quente”, detalha.

Atualmente, cinco mulheres auxiliam na colheita, além de Carmen e Aline. Há dois anos, Maria Enar de Freitas, 53 anos, auxilia Carmen. “Se desse eu já vinha às 5h da manhã para a lavoura, de tanto que eu gosto.”

A moradora de Picada Nova disse já estar acostumada com o calor e ressalta que as técnicas criadas por Carmen auxiliaram ainda mais na colheita. “Não tem segredo, é sem frescura e ligeirinho de colher. É um serviço que eu gosto de fazer, mais do que ajudar a colher tabaco”, enaltece a ajudante.

A filha de Maria Enar, Vitória, também começou a auxiliar na colheita da pimenta. Essa é a primeira safra que ajuda e disse estar empolgada. “Vamos juntas e gostamos desse serviço. Quando tem pimenta, a gente vem, pois ela não espera para ser colhida.”

800 gramas

é a quantidade de pimenta colhida por pé em uma semana.

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Plantio

Carmen conta que faz as próprias mudas. “Observo o calendário do tabaco. Tive 40 anos de experiência. Então utilizo esses canteiros antigos, semeio a pimenta e em agosto ela já vai para a terra.”

Ao longo do ano é necessário uma manutenção da lavoura, com capinas e cuidado com pragas. A adubação é algo que Carmen observa bastante, pois a quantidade precisa ser dosada, caso contrário a pimenta estoura e não pode ser comercializada. “Não tem segredo, a única parte mais trabalhosa é a colheita, mas estou contente com o resultado e o retorno que as pimentas nos dão”, enaltece a agricultora.

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“A gente precisa se reinventar, aceitar desafios e diversificar. Por aqui tem vários nichos de mercados que ainda podem ser explorados. O segredo é gostar do que se faz, que dá certo”

CARMEN GRAEF

Produtora de pimenta

Em Venâncio, cerca de 10 famílias trabalham com a atividade

A pimenta é uma opção de diversificação e geração de renda que já tem cerca de um hectare de produção em Venâncio Aires. Conforme dados da Emater-RS/Ascar, poucos produtores cultivam pimentas, são apenas dez. O principal mercado, segundo a entidade, são as agroindústrias locais que demandam por esse produto.

De acordo com a engenheira agrônoma Djeimi Janisch, extensionista rural da Emater, a mão de obra principal no município é de mulheres. “Principalmente na parte de colheita. Na maioria dos casos a gente vê as mulheres nesse cultivo, pois requer paciência, seletividade e é um trabalho minucioso” destaca.

Djeimi cita que o forte da produção é no verão, por isso a irrigação é bem importante no cultivo devido à deficiência hídrica na estação. Assim, a pimenta consegue uma boa produção. “Não é uma produção ergonomicamente confortável, mas nossos produtores são criativos, usam banquinhos, guarda-sol, pois é um cultivo de verão, no auge dos dias quentes.”

Os cuidados, conforme a profissional, estão basicamente concentrados em uma boa adubação e cuidados com pragas que furam a folha e fruta que podem acabar inviabilizando comercialmente a pimenta.

“A pimenta é uma alternativa de diversificação. O que limita o aumento de área é a demanda das agroindústrias locais e regionais. Ela é economicamente rentável mas requer mão de obra.”

DJEIMI JANISCH

Extensionista Rural da Emater de Venâncio Aires.

pimenta
A pimenta atende um nicho de mercado e as agroindústrias de Venâncio e região acabam comprando a produção (Foto: Rosana Wessling/Folha do Mate)

 

10

é o número de propriedades que produzem a pimenta comercialmente.

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