O lançamento do reality musical The Voice Mais, um programa exclusivo para artistas com mais de 60 anos, apresentado na Rede Globo, desde o dia 17 de janeiro, abriu espaço para que novos talentos sejam reconhecidos em rede nacional. Um trabalho que, muitas vezes, já vem de anos e que, por falta de oportunidades, não ganha visibilidade e impossibilita a dedicação exclusiva à carreira artística.
Enquanto muitas pessoas param no meio do caminho e deixam este sonho de lado, outras correm em busca dos seus objetivos, independentemente da idade. Uma decisão difícil, já que viver economicamente da música é um grande desafio, principalmente para aqueles que estão no interior ou em pequenos municípios do estado.
Diferente do que aconteceu com Renato Ruwer, 63 anos, que deixou a enxada e a rotina do campo em Linha Cecília, interior de Venâncio Aires, para correr atrás daquilo que mais desejava: seguir carreira artística. Mesmo que o mercado musical seja competitivo e cause insegurança financeira, com o apoio da família ele decidiu encarar este sonho.
Aos 11 anos, Ruwer comprou o primeiro violão e contou com o auxílio dos músicos regionais Valerno Konrad, Helmut Alles e Arnaldo Hinterholz, o Pitoco, que já tinham domínio do instrumento, para aprender os primeiros acordes.
Ele recorda que os pais, Waldemar e Ilka Ruwer, já falecidos, foram uma grande referência. “Não íamos dormir sem antes escutar programas da Rádio Tupi e Rádio Globo de São Paulo. Além disso, os programas do Teixeirinha também eram os nossos favoritos. Escutávamos de tudo, do sertanejo de raiz ao rock dos anos 70 e 90”, lembra.
Em 1979, Ruwer foi convidado a integrar a banda Diversom, composta por sete integrantes. O grupo animava kerbs, quermesses e bailes típicos alemães em Venâncio Aires e região. Naquela época, o jovem fazia vocal e guitarra. Contudo, no decorrer das apresentações ele percebeu que precisava buscar mais conhecimento em música. “No grupo, todos tocavam por partituras e eu ainda não sabia. Desta vez, eu tomei uma decisão: ou eu voltaria de vez para a roça ou eu ia estudar música”, revela o artista.
Uma nova fase
Em 1981, com o apoio da família, Ruwer deu o primeiro passo em busca do grande sonho: a música. “Coloquei o meu violão dentro de um saco plástico de ração, peguei o ônibus e comecei a fazer aula de Teoria e Solfejo no Clube de Leituras, com o diretor Hary Lopes e o professor Arnaldo Gregory, do Instituto Musical Mascarenhas”, afirma.
Em 1983, o artista, que aprendeu a tocar violão popular, violão clássico e flauta, foi convidado pela instituição para dar aulas de música. Em busca de novas oportunidades, Ruwer deixou a banda Diversom em 1989 para integrar a banda Solamar, formada por sete integrantes, que tocava um repertório variado, principalmente os sucessos dos anos 70 e 80.
Em 2007, ele encerrou este ciclo e criou a dupla Carmo e Renato, com o ex-aluno do Instituto Mascarenhas, morador de Passo do Sobrado. Já, em 2012, o artista formou o próprio grupo, o The Ruwers, com quatro integrantes, o qual conta com a participação do filho Andy Ruwer, de 34 anos.
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“A idade nunca me preocupou”
Aos 63 anos e com longa experiência na área musical, Ruwer acredita que o segredo para ganhar visibilidade e conquistar o espaço no mercado musical é não parar no tempo.
“É preciso ter paciência, persistência, tempo e dedicação aos instrumentos. As pessoas não devem desistir diante das dificuldades, independente da idade. Para mim, isso nunca foi uma preocupação. Pelo contrário, me sinto como se tivesse uns 40 anos”, brinca o artista e professor de música.
Para ele, o conhecimento é muito importante para o surgimento de novas oportunidades. Contudo, ele argumenta que o artista deve ter, acima de tudo, humildade. Ruwer nunca sofreu nenhuma discriminação em consequência da idade. Segundo ele, a conquista do sucesso não depende somente da capacidade, já que muitos podem ter mais dificuldade para aprender, mas da personalidade de cada um. “Quem já nasce com o ouvido musical, com o tempo vai aperfeiçoando este dom”, acredita.
Trajetória musical
- Quando assumiu o cargo de professor de música do Instituto Musical Mascarenhas, Ruwer dava aulas de música em Venâncio Aires, Lajeado, Santa Cruz do Sul, Vera Cruz, Candelária, Triunfo, Vale Verde e Passo do Sobrado.
- Em 1991, o artista gravou o primeiro LP e fita cassete, pela gravadora ACIT Comercial Fonográfica Ltda, de Porto Alegre. Na época, ele ainda pertencia à banda Solamar.
- Em 1995, Ruwer gravou o segundo CD, pela gravadora Faixa Nobre, de Caxias do Sul.
- Ao todo, a banda Solamar gravou seis trabalhos (um disco de vinil e cinco CDs).
- Atualmente, Ruwer é o responsável pelo projeto de Orquestra de Violões, Flautas e Vocal de Venâncio Aires, promovido pela Secretaria de Cultura e Esportes. Ele ensina música para 30 crianças e jovens vinculados à rede escolar. Além disso, dá aulas particulares.
“O público é que deve julgar o trabalho que é apresentado e não o próprio músico. O artista deve ter postura, conhecimento musical e fazer aquilo de coração”- RENATO RUWER/ Músico profissional
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