“É uma tragédia para todos”, diz funcionária da Biscobom Alimentos, de Mato Leitão

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Em menos de um ano, a comunidade de Mato Leitão presenciou dois grandes incêndios no município, que atingiram as duas maiores empresas da Cidade das Orquídeas. Para muitos, a madrugada do dia 17 de março do ano passado, quando as instalações da Calçados Beira Rio incendiaram, ainda está viva na memória. E, na segunda-feira, 22, a população voltou a presenciar uma situação semelhante, quando, por volta das 13h, as chamas atingiram parte do prédio da Biscobom Alimentos, no Centro da cidade.

Conforme informações apuradas pela reportagem no local do sinistro, o fogo começou no setor de expedição e a propagação foi rápida. No momento do incêndio, os funcionários estavam no horário de folga para o almoço e havia poucas pessoas no local. Todos conseguiram sair a tempo. Para conter as chamas, quatro viaturas, três de Venâncio Aires e uma de Lajeado, foram necessárias.

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Tristeza

Funcionária da empresa há quase 13 anos, Marcia Debald Kronbauer, 46 anos, estava se deslocando de casa para o trabalho, após o horário de intervalo para o almoço, quando o sinistro havia começado na Biscobom. Ela relata que, ao chegar no Centro, percebeu a grande quantidade de fumaça, mas não tinha ideia de que poderia ser algo na empresa.

“Quando cheguei mais perto percebi que era na Biscobom. Fiquei muito nervosa, porque só pensava se tinha alguém lá dentro. Somos uma família, temos muitas amizades”, compartilha. Marcia, que é encarregada no setor de wafers, também destaca que ela e a família conseguiram alcançar muitos objetivos por causa do emprego na Biscobom. “É uma tragédia para todos, porque a Biscobom também dá muito lucro para o Município. É uma empresa que está crescendo e se modernizando”, comenta a moradora de Vila Arroio Bonito.

Sobre a Biscobom

  • Segunda maior empresa de Mato Leitão, atrás apenas da Calçados Beira Rio, que está finalizando a reconstrução da sua sede no município, a Biscobom está localizada na rua Leopoldo Aloisio Hinterholz, no Centro, ao lado da Unidade Básica de Saúde (UBS) Central.
  • A área da empresa é de aproximadamente 13 mil metros quadrados. São 75 colaboradores, distribuídos em quatro linhas de produção, que contam com equipamentos e maquinários de última geração.
  • No ano passado, a Biscobom Alimentos, que tem 21 anos de história, foi a única empresa da Cidade das Orquídeas a exportar produtos. Ela comercializou para cinco países: Uruguai, Paraguai, Bolívia, Chile, localizados na América do Sul, e a República Dominicana, situada na América Central.
  • Além disso, a Biscobom vende o mix de produtos, formado por mais 50 variedades das marcas Vitória e Cestari, para municípios do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná.

“Nos solidarizamos com a empresa”, diz prefeito

Na tarde da segunda-feira, o prefeito Carlos Bohn acompanhou o combate ao incêndio na Biscobom Alimentos. Ele já conversou com os proprietários da empresa para colocar a Administração Municipal à disposição para que se possa encontrar uma forma de retomar as atividades no local. “Nós nos solidarizamos com a empresa. Vamos ser parceiros e buscar saber como podemos colaborar para o retorno.”

O chefe do Executivo também lembra que a Biscobom é uma empresa que nasceu em Mato Leitão. “Acompanhei a criação dela. Foi um ato de coragem e de empreendedorismo em uma época que não era comum existir parcerias com a Prefeitura”, recorda. Para ele, uma importante marca da indústria é buscar o crescimento.

“É uma empresa que desde o início vem em uma crescente. É muito sólida, pé no chão, mas que investe em ampliações da estrutura física, no aumento do número de funcionários e em maquinário moderno, que vive um momento muito bom em termos de mercado interno e de exportação. É uma empresa de grande importância para o município”, avalia.

A reportagem fez contato com a empresa, que preferiu não se pronunciar. O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Alimentação de Venâncio Aires, que abrange Mato Leitão, também informou que, por enquanto, não há informações sobre como ficarão os empregos.

Desafios do combate ao incêndio

O sinistro que atingiu a empresa Bicobom Alimentos foi atendido pelo Corpo de Bombeiros de Venâncio Aires. Inicialmente, duas viaturas se deslocaram até o local. No entanto, por causa das chamas muito altas e da carga de incêndio que estava queimando, foi necessário pedir o apoio da corporação de Lajeado. Além disso, mais uma equipe da Capital Nacional do Chimarrão foi acionada. Assim, dez bombeiros atuaram no combate ao incêndio, sete de Venâncio e três de Lajeado.

Bombeiros, com o auxílio de máquinas da Prefeitura, trabalharam durante a terça-feira no rescaldo do incêndio (Foto: AI Prefeitura)

“Como era uma extensão de área muito grande que estava queimando, foi preciso fazer frente em vários pontos para evitar que se alastrasse”, observa o comandante do Corpo de Bombeiros de Venâncio, tenente Luciano Machado Morais. De acordo com ele, de forma geral, quando se chega em um incêndio, se busca resfriar a parte que já foi atingida para que as chamas não aumentem, mas a prioridade é salvar a parte que ainda não queimou.
“Resfriamos a parte de onde o incêndio estava se propagando para que ele parasse naquele momento e não se propagass para o restante da edificação. Foi o que conseguimos fazer naquele caso. Mais da metade da empresa foi salva porque o incêndio não se alastrou.

Muito em função de que a prioridade foi preservar a parte que não estava queimando”, salienta. Segundo relato dos proprietários ao Corpo de Bombeiros, o incêndio atingiu duas linhas de produção, estoque de produtos pronto e um local com matéria-prima, como açúcar, gordura vegetal e farinha. Uma área de produção, de depósito, do setor administrativo, o refeitório e a cozinha não foram atingidos.

Conforme o sargento Vanderlei Teixeira, na lateral da empresa havia dois tubos de gás e, apesar de eles estarem dentro da distância segura, por precaução, também foram resfriados. Além disso, foi cortada a alimentação de gás para dentro da empresa. “Dentro de condições como essas, em alta temperatura, não é necessário que a chama chegue até o ponto ou até outra parte da edificação para que o fogo de propague. Por irradiação, a outra parte aquece até que começa a queimar também. Essa foi uma das preocupações ao se fazer a proteção desses cilindros com GLP. Isso poderia causar uma grande explosão”, explica o tenente Morais.

De acordo com ele, o maior desafio em ocorrências como a da Biscobom, na qual uma área muito grande estava queimando e existiam vários riscos estruturais, como de desabamento, é conseguir realizar um trabalho de proteção da área que não estava queimando e oferecer segurança para a equipe. O comandante ainda ressalta o apoio da Prefeitura, com o fornecimento de máquinas que foram fundamentais para abrir acesso e ser possível ter um combate mais efetivo e na remoção da carga de incêndio que ainda estava queimando.

Queima lenta

Assim como aconteceu no incêndio que atingiu a Calçados Beira Rio em março do ano passado, algo que chamou a atenção da comunidade foi a quantidade de tempo que ainda existiam chamas no local do sinistro.

Segundo o tenente Morais, isso acontece por causa da grande quantidade de carga de incêndio existente no local. “Carga de incêndio é o material que tem dentro dessas áreas com potencial de queima”, observa.

Ele explica que há a queima na superfície e em profundidade. “Em casos assim, a gente apaga a parte que está queimando em superfície, mas como é alta temperatura, a água logo evapora. O que está queimando na parte interna, a queima lenta que chamamos, continua queimando. Isso acontece por várias vezes”, esclarece, ao ressaltar que não há mais risco do fogo se alastrar.

O trabalho do Corpo de Bombeiros de Venâncio teve duração de cerca de 24 horas. Contudo, segundo o sargento Vanderlei, por volta das 16h30min de segunda-feira, o incêndio já havia sido controlado.

Até o início da tarde da terça-feira, 23, uma equipe da corporação realizava o rescaldo do incêndio, que corresponde à remoção do material e colocação de água para resfriar. Isso faz com que o risco de propagação do fogo não exista. “Ele apenas vai continuar nessa queima lenta, com poucas chamas”, informa o tenente.

Saiba mais

  • 210 mil litros de água foram usados pelo Corpo de Bombeiros para conter as chamas do incêndio na Biscobom Alimentos e fazer o rescaldo da área.


Taís Fortes

Taís Fortes

Repórter da Folha do Mate responsável pela microrregião (Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde) e integrante da bancada do programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Terra FM

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