“Precisamos entender que a terra é o coração, ela precisa ser bem cuidada e ‘alimentada’ para conseguirmos uma boa produção em qualquer cultura que apostarmos”, considera o jovem produtor de tabaco Eduardo Junior Bencke, 25 anos, que aposta na adubação.
O morador de Linha Arroio Grande, no interior de Venâncio, ele ‘se criou’ no campo, ao lado dos pais que sempre cultivaram o tabaco. “Com uns 16 anos já comecei a demonstrar interesse. Eu até tentei ir para a cidade trabalhar, mas logo voltei. Em 2017, já comecei minha primeira safra.”
O jovem logo decidiu que queria fazer diferente. “É um outro jeito de plantar tabaco, uma nova forma de fazer dar certo”, define. Observando exemplos em outras culturas e em sites da internet, Eduardo começou a optar pela adubação verde na entressafra.
Hoje, o cultivo é 100% direto com adubação verde e aveia. “O preço do milho é animador, praticamente todos optam por plantar o milho nessa época, mas eu optei por adubação verde, optei por cuidar do solo.”
O propósito é continuar com as adubações verdes após o tabaco, em vez de apostar em outra cultura como o milho, por exemplo, cultivado por maioria dos produtores de tabaco na resteva. Ele, que divide as terras com os pais Elstor e Ivone Bencke, comenta que, devido à necessidade, eles tiveram que plantar o milho. “Com certeza, se eles pudessem optar iriam apostar na adubação verde, mas eles escolheram plantar o milho pelo preço que está este ano. Mas eu sempre digo que é preciso avaliar os custos também. São escolhas”, cita.
Eduardo cultiva aproximadamente 1,2 hectare e 15 mil pés de tabaco, mas o solo recebe todo um carinho especial pelo produtor – esse é o diferencial do jovem. Agora, ele já semeou crotalária e milheto para incorporar na terra antes de receber o tabaco. Outra novidade testada por Eduardo é o Lab Lab, uma cultura forrageira utilizada para aumentar a qualidade do solo.
A adubação verde já trouxe diversos resultados que animam o produtor. “Eu já observei 40% de aumento na produção nesta safra, se comparar com a anterior. E meu custo diminuiu consideravelmente, plantando a mesma quantia de pés que no ano anterior”, compartilha.
O produtor de tabaco elenca diversos fatores que contribuíram com esse resultado: o clima, a variedade da semente do tabaco, os tratamentos culturais durante a safra e os cuidados com o solo.
“No interior, a regra é um por um. Um saco de ureia para mil pés. Eu já reduzi para 35 quilos por mil pés. O achismo pode custar caro, por isso, é fundamental fazer uma análise de solo e ver do que realmente a terra precisa”, enaltece o produtor.
Mas os cuidados de Eduardo não param por aí. A redução de químicos na produção também é uma das metas do jovem. Na última safra, ele já acrescentou um óleo que exerce a mesma função do químico. “Dá trabalho, mas o resultado vem. Nessa safra consegui sair de 6,5 arrobas para 9,5. A cada ano é um avanço e um resultado para comemorar.”
Qualidade
O grande problema elencado pelo jovem ainda é a venda. “Falta qualidade no meu tabaco. Ele queima pois aqui é uma região muito quente. Então, na próxima safra, vou focar ainda mais na adubação verde e talvez não vai dar tempo de usar a aveia como palhada, mas vou plantar o fumo mais cedo. Com isso, quero finalizar a colheita em dezembro e ele não irá queimar tanto”, projeta o morador de Linha Arroio Grande.
Sementes próprias de adubação
Neste ano, o produtor implementou uma espécie de camalhões teste, ele plantou diversas forrageiras diferentes com o objetivo de ter suas próprias sementes. Além da crotalária e do milheto, Eduardo Bencke cultiva o mucuna cinza, feijão de porco e feijão guandu.
Outro cuidado que o jovem tem é com a rotação de culturas. “Não adianta todo ano plantar crotalária e milheto. Por isso, a cada ano, testo novas sementes e vou guardando. São testes, mas eu gosto dessa parte. Acho que sempre podemos inovar e ter nosso próprio estoque de sementes.
“Já passei por inúmeros imprevistos, já deu muita coisa errada, mas isso não me desanima. Eu amo o que faço e tento focar na adubação verde e na qualidade do solo para garantir uma boa safra.”
EDUARDO JUNIOR BENCKE
Produtor de tabaco
Aposta na diversificação
Além da produção de tabaco, Eduardo Bencke, ao lado da namorada, Denise Faust, 22 anos, criou um delivery de hortifrúti, o Eco Horti. O casal produz verduras e hortaliças e as comercializa em Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul mediante encomendas. “Agora estamos apostando na instalação de sombra e irrigação para ter verduras o ano todo. Queremos voltar com tudo e não parar”, cita o jovem.
Além disso, eles irão instalar um sistema semiautomático de irrigação, dessa forma não afetará o serviço no campo por exemplo. “Posso estar colhendo o tabaco e automaticamente irá irrigar as hortaliças”, comenta Eduardo sobre a praticidade.
A família de Eduardo também é sócia da Cooperativa dos Produtores de Venâncio Aires (Cooprova) e comercializa verduras para os programas institucionais.
*Esta reportagem foi originalmente produzida para o caderno Mapa Rural especial Safra de Tabaco
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