Tabaco fora de época: A três semanas da colheita do baixeiro

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Um experimento da família Reckziegel, em Linha 17 de Junho, interior de Venâncio Aires, vem chamando a atenção de fumicultores de todo o Brasil. Pode até soar estranho para você leitor, mas o casal Jorge Matias Reckziegel, 54 anos, e Ilaine Maria Machry Reckziegel, 55 anos, e a filha Janaína Reckziegel, 29 anos, decidiram cultivar uma safra de tabaco fora de época e se preparam para, em três semanas, iniciar a colheita do baixeiro.

Há um mês na lavoura, os resultados nas mudas são impressionantes e motivadores para a família. “Cada semana que a gente vem olhar os avanços, o tabaco na roça está maior”, acrescenta Ilaine. A família decidiu fazer um experimento e cultivar cerca de 20 mil pés de tabaco na entressafra. A vontade já havia surgido no ano passado. “Mas a gente encerrou a colheita da safra um pouco mais tarde e a estiagem estava se prolongando. Não era hora de arriscar. Esse ano com a pandemia a vontade de testar algo diferente foi mais forte, vimos que o clima ia ajudar e decidimos arriscar”, conta o produtor.

Tabaco tarde
Família de Linha 17 de Junho decidiu apostar no cultivo do tabaco fora de época (Foto: Roni Müller)

Com todo o tabaco da safra normal entregue na semana passada, os Reckziegel comemoram os resultados obtidos na comercialização das 703 arrobas, apesar da quebra de 14% em relação a safra 2019/2020. Neste ano, a família acredita que a geada e a seca em outubro prejudicaram um pouco no resultado, mas nada que os desanimasse. “Fizemos uma média boa, vendemos muito bem.”

Menos mão de obra no tabaco

As atenções da família estão todas voltadas para o experimento. Afinal, cultivar os 20 mil pés de tabaco em uma época nada tradicional requer planejamento. Tudo começou com a escolha da terra para o plantio. “Temos terra de areia e a terra vermelha. Como são 16 anos plantando fumo a gente já sabe como cada terra se comporta. Dificilmente a geada mata o tabaco na terra de areia”, comenta o agricultor.

Depois a família começou a iniciar a procura pelas sementes. “Eu achei que era ir na agropecuária e comprar as sementes. Mas não achei. E nas empresas não tem mais como fazer pedido, é tudo por conta”, explica Reckziegel.

Com a ajuda do produtor Silvio Haas, de Passo do Sobrado, a família de Venâncio Aires encontrou algumas unidades de sementes de tabaco. A intenção era fazer o transplantes de mudas do canteiro para a lavoura em meados de 15 de março, mas o ciclo foi mais rápido do que o esperado. “As mudas chegavam a pedir pra ir à lavoura, de tão grande que estavam na piscina. Era hora”, brinca o produtor ao se referir ao ciclo rápido de desenvolvimento das mudas.

Germinação em quatro dias

O tabaco foi semeado no dia 15 de janeiro, foram cerca de quatro dias para germinar. Na época tradicional leva de 10 a 14 dias para ocorrer a germinação. Foram apenas 40 dias com as mudas no canteiro até serem replantadas na lavoura. O ciclo normal é de no mínimo 70 dias. Com apenas essa mudança no ciclo, a família estima redução de mão de obra. “É um mês a menos em volta do canteiro. Menos defensivos, menos custos”, reforça Reckziegel.

Hoje, o tabaco já está na roça há 30 dias, alguns pés já estão com cerca de 15 folhas, com 22 folhas o agricultor já inicia a desponta do tabaco. “Nesses dias de calor ele só vem. Se tudo der certo até julho a gente colhe tudo e ainda apronta e vende para a indústria nesta safra”, salienta. A expectativa é de colher os 20 mil pés em sete fornadas.

“Eu não troco essa vida por outra coisa. Eu gosto muito do que eu faço, acho um bom retorno financeiro, e não posso dizer que é um trabalho ruim. Me considero alguém realizado.”
JORGE MATIAS RECKZIEGEL –
Produtor de tabaco

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Se o experimento der certo, a família pretende reduzir a plantação de tabaco na safra normal

A safra de tabaco anterior teve a colheita encerrada no dia 27 de dezembro e a venda do tabaco seco finalizou na semana passada. “Antes de plantar o tabaco fora de época fui me informar. A experiência é válida, pois por hectare eu não conheço cultura que bate os lucros como o tabaco”, frisa.

Apesar de cultivarem o tabaco fora de época, a ideia não é ampliar a produção, mas sim fazer uma melhor distribuição, além disso, utilizar os 15 hectares para diversificação e rotação de culturas durante um ano. “Eu gosto de experimentar coisas novas e na lida diária não é diferente. Nossa ideia não é ampliar nossa produção, mas sim fazer duas safras por ano, assim como outras culturas.”

“A gente precisa optar em entressafra. Hoje está mais fácil a cultura. A gente só precisa buscar conhecimento, novidades e experiências. Precisamos testar coisas novas e diferentes”, comenta o agricultor.

Reckziegel espera um bom retorno com o tabaco fora de época, mas já percebe que a folha poderá ter menos peso que a safra tradicional. “Se o resultado for satisfatório, a gente vai reduzir na safra normal e no ano seguinte já ampliar o fora de época, pois acreditamos que irá reduzir custos e mão de obra.”

Mudanças

Reckziegel, que exercia a profissão de cobrador e motorista de ônibus, decidiu ao lado da esposa, iniciar a vida na agricultura. “Eu sempre falava para meus amigos que ia ser agricultor, eles até achavam estranho e que nunca isso iria acontecer. Apesar de me criar no meio do campo senti que era hora de voltar a mudar de ramo”, comenta.

Foram anos na estrada, de 1978 a 2004. Agora já são 16 anos trabalhando no cultivo do tabaco, gado de corte e grãos, além de itens para subsistência. “Sempre falo que no interior a gente precisa buscar coisas novas, e eu acho a nossa experiência válida. Já percebo muita gente pedindo informação, principalmente de Santa Catarina e Paraná.”
O agricultor salienta que assumiu a safra com recursos próprios, e efetivou o seguro da plantação e das estufas junto à Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra). “Se vai dar certo ou não, a gente não faz ideia, mas podemos estar descobrindo uma grande novidade”, pontua.

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