A arte de tricotar: uma tradição que passa de mãe para filha

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A habilidade com as mãos já fazia parte da rotina de Ilse Silberschlag, 68 anos, desde quando costurava para os vizinhos de Linha Sapé. Sentada em frente à máquina de costura, ela passava horas a fio, em um trabalho minucioso que complementava a renda da família, para custear os estudos das filhas, que fizeram o Ensino Médio em escola particular e, que na época, tinham que pagar o transporte para poder estudar na ‘cidade’.

Em 1983, ela era considerada uma das primeiras costureiras da localidade e, além de costurar para os amigos, também confeccionava os uniformes dos funcionários do frigorífico Sapé, próximo à residência da família. Desde que começou a costurar, sempre correu atrás de novidades para aprimorar o trabalho. “Sempre tive curiosidade para tirar das revistas os moldes. Comecei fazendo renda em pano de prato e, mais adiante, já estava fazendo tapetes e rendas mais largas”, recorda. Contudo, a costura nunca foi oficialmente a sua profissão. Ilse também auxiliava o marido, Ariosto Silberschlag, 71 anos, a cuidar dos animais e das atividades da casa.

O trabalho manual que realizava também era uma terapia, principalmente depois que a filha Mariane Rita Silberschlag, 45 anos, foi diagnosticada com câncer, há cerca de três anos. “Por meio da costura e do crochê, eu ocupava a cabeça para encarar a situação. Na época, eu também fazia guirlandas para o Natal e a Páscoa e outros fuxicos”, relembra Ilse.

Troca entre mãe e filha vira tradição

Durante a adolescência, o hábito de costurar não despertou o interesse da filha, que acompanhava diariamente o trabalho da mãe, sentada em frente à máquina de costura. Mas, diante da situação de saúde em que se encontrava, ela também desejou fazer algo diferente. Foi quando resolveu fazer um curso de Pathwork (bordado com técnicas de costura e colagem).

Após a especialização, ela e a mãe resolveram fazer artesanato juntas e passaram a trocar novas experiências na área. “Minha mãe sempre teve noção de corte, costura e medidas. Por isso, aprendeu com facilidade. Hoje, o bordado dela sai mais perfeito do que o meu”, comenta Mariane, sorrindo.

Como não era possível participar de cursos presenciais, ela precisou da ajuda da filha para acessar os vídeos no YouTube para aprender mais sobre a área. Desde que começou a tricotar tinha vontade de produzir peças adultas e infantis de crochê. “Eu tinha muita curiosidade, mas não sabia por onde começar”, afirma.

No ano passado, Ilse produziu um casaco feminino adulto, a primeira peça em crochê. (Foto: taiane Kussler/Folha do Mate)

Arte de tricotar: “Quem faz trabalho manual, põe amor naquilo que faz”

Com a chegada da pandemia, a auxiliar de Educação Infantil e a agricultora aposentada se encontram para tricotar todas as noites e nas horas de folga. Ilse domina mais o crochê e a filha Mariane, o tricô. Enquanto elas conversam e realizam este trabalho, Silberschlag costuma escutar rádio ou assistir jogos de futebol na televisão. Desde o ano passado, Ilse teve mais tempo para se aperfeiçoar. Em 2020, fez a primeira peça de crochê: um casaco feminino, que foi confeccionado em duas semanas. “Tive que olhar umas duas ou três vezes o mesmo vídeo pelo celular para conseguir fazer. Foi muito gratificante para mim conseguir finalizar o casaco”, comemora.

Com a prática, ela passou a fazer peças para bebê. Este ano, confeccionou um conjunto completo para presentear a sobrinha Luciane Carine Wessling, 36 anos, que aguarda a chegada do pequeno Arthur, prevista para maio. “Quando entregamos o presente foi uma mistura de emoções. Minha mãe, que produziu com muito carinho as peças entregou a ela e, no mesmo dia, fui convidada para ser a madrinha do bebê”, conta Mariane, emocionada com o convite e com o trabalho da mãe.

Uma doação de amor

Depois de ter passado por situações difíceis, em decorrência da doença, Mariane faz o que for possível para ajudar ao próximo. No inverno de 2018, após o diagnóstico de câncer, ela passou a confeccionar toucas de tricô para doar para a Liga Feminina de Combate ao Câncer de Venâncio Aires. “Depois de ter passado por esta situação, mudei a minha maneira de ver as coisas”, recorda Mariane, já recuperada da doença.

Hoje, ela e a mãe confeccionam kits de toucas e meias infantis de tricô e crochêpara serem doados às famílias em situação de vulnerabilidade social. “Vamos doar diretamente às famílias que necessitam ou ao Hospital São Sebastião Mártir (HSSM). A ideia é fazer a entrega dos itens antes do inverno, entre maio e junho”, comenta Mariane.

Kits de sapatinhos e toucas de tricô e crochê serão doados, neste inverno, às famílias em situação de vulnerabilidade social. (Foto: Taiane Kussler/Folha do Mate)

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