Na propriedade de cinco hectares da família Baierle, em Vila Arlindo, na sede do 7º distrito de Venâncio Aires, o casal Nelci Maria Rabuske Baierle e Paulo Armindo Baierle, ambos com 61 anos, se dedicam há 39 anos à agricultura e à produção de tabaco. Ela é natural de Linha Santa Eugênia e ele de Linha Tangerinas, ambos vêm de famílias agricultoras, com tradição na produção de tabaco. Paulo é a terceira geração da família a continuar com essa atividade, iniciada pelo avô Emílio e depois passada para o pai, Rainaldo. Casados há quase quatro décadas, eles formaram uma família com o trabalho no campo. Têm dois filhos, Daiana, 37, e Felipe, 30, e são avôs de Manuela e Maitê.
A principal fonte de renda da família Baierle é o cultivo de tabaco, com uma produção que atualmente atinge cerca de 55 mil pés, mas que já chegou a 65 mil. A trajetória de produção começou mais modestamente, com 27 mil, e foi crescendo ao longo dos anos. Agora, o plano do agricultor já aposentado é reduzir para cerca de 25 mil pés. Além do tabaco, a família mantém açudes com peixes, uma área de potreiro para o gado, e também extensa área de mata nativa e eucaliptos.
“Muitos dizem que a Vila Arlindo tem uma terra fértil para o plantio e eu concordo. Desde pequeno escuto que o solo é fértil e produtivo e isso se reflete nos resultados de todos os anos. Temos um cuidado especial com a produção, mas também temos uma região com uma lavoura acessível, diferente de lugares que são de difícil acesso com muitas pedras e solo ingrime”, argumenta Baierle.
Nelci e Paulo acompanham as mudanças no setor agrícola e se adaptam às novas tecnologias. Com a compra do primeiro trator, há 14 anos, o trabalho ficou mais ágil. Recentemente, a instalação de energia solar trouxe mais eficiência para a propriedade. Baierle avalia positivamente as mudanças, pois isso também permite aumentar a área plantada e diversificar as atividades. “Lembro de quando iniciamos o plantio. Naquela época, o tabaco era amarrado a mão, com cavaletes. Depois tivemos a tecedeira de duas varas e agora tem a esteira que é muito mais ágil”, comenta.
Atividades em família na produção de tabaco
A agricultora é a responsável por cuidar da horta, onde tem feijão, aipim e verduras, além de preparar as refeições para os homens durante a colheita. Embora evite ir à lavoura devido a problemas de saúde, ela é a dona do pão de aipim indispensável na hora do café para os que realizam o trabalho na roça. O caçula, que mora na propriedade, é engenheiro civil, mas auxilia no trabalho da propriedade quando pode, como, por exemplo, na ‘ronda’ na secagem do tabaco a noite.
Há também as adversidades do trabalho da lavoura, como aconteceu no ano passado, o incêndio na estufa de mais de 600 varas de tabaco que já estavam secas. Depois do ocorrido, eles decidiram implementar uma estufa elétrica, que suporta 240 grampos.
Para Nelci, a vida no campo é uma “empresa a céu aberto”, onde precisa enfrentar os desafios da natureza. “Nossa produção está boa e bonita, agora o que resta é rezar para conseguir colher tudo”, deseja.
Entre os passatempos dos moradores de Vila Arlindo, quando não estão com o compromisso na lavoura, é curtir as netas e os filhos no fim de semana. Outra atividade que Baierle gosta de fazer é assistir a jogos de futebol e acompanhar os times de coração Internacional e Juventude de Vila Arlindo. Eles são católicos e participam da comunidade Nossa Senhora da Natividade da mesma localidade.
“O produtor de tabaco é focado em recuperação, manejo e fertilidade do solo”
De acordo com dados divulgados pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), da safra 2023/2024, no ranking geral, Venâncio Aires aparece na terceira posição no país e no segundo lugar entre os municípios gaúchos que mais plantam tabaco. Esse resultado também reflete a diversidade dos solos da região, que são ricos em matéria orgânica e variam desde áreas arenosas e terrenos pedregosos até solos de terra vermelha. Assim, o cultivo do tabaco, além de representar uma fonte de renda, envolve uma dedicação ao manejo sustentável e à recuperação constante da terra de 3.677 famílias produtoras na Capital do Chimarrão.
Segundo o responsável técnico da Afubra de Venâncio Aires, Renato da Silva Serpa, o produtor de tabaco está sempre atento à necessidade de alta produtividade em áreas pequenas, o que requer cuidados específicos com o solo. “O agricultor que planta tabaco se preocupa com a manutenção do solo, diferente de outras culturas onde o produtor rural, muitas vezes, trabalha com áreas maiores e nem sempre consegue a mesma recuperação do solo. Ele é focado em recuperação, manejo e fertilidade do solo, demonstrando a preocupação ambiental que o fumicultor também tem”, afirma.
Com 32 anos de experiência em campo e 14 anos na Afubra, Serpa destaca a importância de um manejo especializado na produção de tabaco, voltado para a preservação e manutenção da fertilidade do solo. Ele observa que os fumicultores buscam alternativas sustentáveis sempre que possível, como métodos biológicos ou rotação de culturas, para preservar o solo. “Alcançar a máxima produção é um desafio, e o produtor está sempre em busca do melhor. Quando tem dúvidas, busca conhecimento com técnicos no assunto”, explica.
Um exemplo é o caso do produtor Nestor Kist, de 57 anos, que mora em Vila Arlindo, no interior de Venâncio Aires. Este ano, ele cultiva 160 mil pés de tabaco. Como parte de um experimento, e com apoio técnico da Afubra, Kist plantou milheto em fevereiro em uma área de 40 mil pés, que considerava menos produtiva, e milho em áreas mais úmidas para auxiliar na recuperação do solo. “O resultado do experimento foi o esperado e positivo”, comemora.
Kist também enfatiza que a experiência adquirida ao longo dos anos é essencial para lidar com situações adversas, como o vento que derrubou algumas plantas durante o temporal da última quinta-feira, 24. “Saber lidar com esses desafios vem da experiência e dos ensinamentos de gerações passadas”, compartilha.
“O produtor conhece sua lavoura como ninguém. A teoria e a prática andam juntas, uma depende da outra, mas, na maioria das vezes, é a experiência do agricultor que realmente faz a diferença”
RENATO DA SILVA SERPA
Responsável técnico da Afubra de Venâncio Aires