Neste mês, a Prefeitura de Venâncio Aires anunciou que, em 2025, não haverá turmas em escolas públicas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Capital do Chimarrão. O último educandário com a modalidade era a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Dois Irmãos, no bairro Aviação, já constando apenas Ensino Fundamental, do 2º ao 9º anos. Na rede estadual, que oferecia o Ensino Médio, a Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Monte das Tabocas deixou de ofertar em 2022, quando encerrou a última turma.
Segundo o secretário de Educação, Émerson Eloi Henrique, não se trata de, necessariamente, um fim definitivo. “Esse foi um pedido do prefeito, que o fim não seja definitivo. Nós já vimos, há algum tempo, uma diminuição drástica de alunos interessados em concluir seus estudos através da EJA e foi ficando insustentável”, disse, em entrevista ao programa jornalístico Folha 105 – 1ª Edição.
Alternativa: Sesi e Sesc
Dessa forma, apenas o Sesc e o Sesi contam com a modalidade em Venâncio Aires. No caso do primeiro, são aceitos apenas estudantes com Ensino Fundamental completo. Além disso, para as aulas, que são no formato semipresencial, é necessário ter mais de 18 anos de idade e possuir renda familiar mensal de até dois salários mínimos – comerciários e dependentes têm preferência no preenchimento das vagas. As inscrições para o curso, que tem duração de 18 meses, estão fechadas neste momento.
No Sesi, a escolaridade é um pouco mais abrangente, contemplando estudantes a partir do 6º ano do Ensino Fundamental, também no formato semipresencial. Segundo a gerente de operações do Sesi, Liége Teixeira, as inscrições seguem abertas até o dia 10 de março, embora as aulas já tenham iniciado no dia 10 de fevereiro. Para trabalhadores da indústria ou dependentes, o curso é gratuito, já para a comunidade geral, há uma cobrança de R$ 96 mensais. Atualmente, os encontros semanais presenciais ocorrem no Colégio Oliveira.
Segundo a gerente, o tempo para conclusão dos estudos varia a depender do histórico escolar do estudante, da participação nas aulas e do desempenho nas atividades. Em geral, o período no Ensino Médio costuma ser de um ano. Assim como no Sesc, a maioridade é exigida.
“A EJA cumpriu o seu papel em Venâncio Aires muito bem, com mais de 20 anos. Tirou muita gente do analfabetismo e elevou o nível de escolarização da nossa população.”
ÉMERSON ELOI HENRIQUE
Secretário de Educação
Fechamento pela baixa procura da EJA em Venâncio Aires
De acordo com a Secretaria de Educação, apenas cinco pessoas sinalizaram interesse em se matricular na EJA em 2025, no entanto, nenhuma delas confirmou a matrícula. Conforme a direção da Escola Dois Irmãos, para oferecer as aulas noturnas era necessário ter supervisor, professor e merendeira com carga de 20 horas semanais, além de arcar com aumento nos gastos, como luz e água. Em 2024, foram 14 formandos na Educação de Jovens e Adultos, enquanto que, no ano retrasado, o número era de 19.
Na percepção da diretora Maria Cristina Dornelles, alguns fatores ajudam a explicar a queda no interesse. A primeira – e talvez principal – foi a pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2022. Até 2019, era comum se ter seis ou sete turmas na modalidade, somando, por vezes, 300 alunos. Durante o período de exceção por conta do coronavírus, as aulas migraram para o ensino a distância, mais cômodo para os estudantes.
Outro aspecto é que, durante alguns anos, os trabalhadores afastados e garantidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) procuravam concluir os estudos no Ensino Fundamental para se recolocar no mercado em oportunidades em escritórios, por exemplo. Segundo a direção, a escola até tentou buscar alunos, com propagandas e chamamentos, mas sem resultado. “O público da EJA não costuma ter pressa. Eles vêm quando precisam. É um sentimento estranho, porque é uma vida dedicada a isso”, afirma Maria Cristina. A escola disponibilizava a opção desde 2002.
“Limbo”
Embora, de fato, haja uma menor demanda pela EJA em Venâncio Aires, ainda há interesse na comunidade, como é percebido pela própria gestão da Dois Irmãos. No entanto, na maioria dos casos, trata-se de um público que não pode estudar à noite. A vice-diretora e ex-supervisora da modalidade na escola, Aline Zeneida da Silva, explica que existe uma normativa que impede que menores de idade estudem à noite durante o Ensino Fundamental.
“Então, aquele aluno de 15 ou 16 anos que quer estudar, mas que também precisa trabalhar durante o dia, fica nesse limbo”, conta. Uma alternativa poderia ser um EJA diurno para o Fundamental, que chegou a ser oferecido no início da década na Emef José Duarte de Macedo, no bairro Macedo. No entanto, o curso foi encerrado em 2023 – também por falta de demanda.
Além disso, as políticas públicas para incentivo a alunos implementadas pelos governos estadual e federal – Todo Jovem na Escola e Pé-de-Meia, respectivamente -, contemplam apenas matrículas do Ensino Médio.