Wandschoner: tradição dos panos de paredes trazidos ao Brasil por imigrantes alemães

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Os Wandschoner são panos com frases em Língua Alemã que eram expostos, na maioria das vezes, atrás do fogão a lenha, nas casas dos imigrantes alemães. Nas peças de decoração, são bordados dizeres que podem ser engraçados, poéticos, educativos, moralizantes ou religiosos. Os panos de paredes surgiram na Europa – principalmente na Alemanha, Áustria e Suíça. “Dizem que os primeiros foram confeccionados em 1870. Então, quando os alemães vieram para o Brasil, trouxeram a cultura dos panos de paredes junto”, conta a pesquisadora e professora de Língua Alemã, Jaqueline Bender.

Conforme Jaqueline, o Wandschoner era uma peça da burguesia, dos mais ricos e, mais tarde, somente foi adotado nas regiões de pessoas mais simples, nas residências do campo. “Os imigrantes só conseguiram trazer a cultura junto, porque já estava difundida entre os camponeses da época”, relata. Traduzida pela professora, a palavra alemã Wandschoner significa no português ‘protetor de parede’. E, como o próprio nome já diz, era usado justamente com esta finalidade.

Na época, só tinha cal para pintar a residência, então, para proteger da sujeira e também do fogo, muitas vezes, eram usados os panos para deixar limpo, mais bonito e também para proteger do frio. Os lugares em que os panos eram expostos variavam. Muitos estavam atrás da mesa da sala de jantar, mesas laterais, bancos ou conforme a combinação que ficava bonito. “Antigamente, era desejo tornar a cozinha mais higiênica, como forma de imitar o modelo burguês. O intuito era que a casa ficasse com ar de limpa, bonita e luminosa”, comenta.

Segundo Jaqueline, a escrita usada nos panos de paredes é o Alemão Gótico, não a escrita Latina. Então, muitas vezes, os panos têm ainda a grafia antiga e são difíceis de ser lidos. As escritas eram para deixar uma mensagem para quem visitava a família. A tradição era que, antes das refeições, uma oração devia ser feita e, muitas vezes, eram usadas as frases dos Wandschoner como estímulo para as orações. “Dos que vi até hoje, eram religiosos ou tinham frases de boas-vindas às pessoas que chegam naquela casa. Cada família tinha sua frase específica, como se fosse a frase da família”, relembra Jaqueline.

A avó de Jaqueline Bender, Alma Bencke Schmidt, conheceu a tradição que aprendeu com a sua avó. “A vó Alma contava que em certos locais onde ela ia passear quando pequena, adorava ficar observando as flores dos panos, porque não era só a frase, eram também símbolos bordados”, ressalta.

Na Casa Paulina, um resgate da história emoldurado

Na família de Lauri Paulo Meurer, proprietária da Casa Paulina – empreendimento de turismo, gastronomia e eventos -, os Wandschoner estão expostos na sala da Casa de Pedra, em Linha Olavo Bilac. Esses panos de paredes foram bordados e confeccionados pela avó Paulina, nome de nascimento Pauline Schwingel, nascida em 1888 e falecida em 1958. Lauri conta que não chegou a conhecê-la, pois nasceu em 1962, mas faz questão de resgatar e preservar a história da família.

Segundo ele, os panos foram bordados antes da Primeira Guerra Mundial e, depois, com o advento da Segunda Guerra Mundial, ficaram muitos anos escondidos e guardados. O risco que se tinha era de serem queimados, pois não podia ficar nas casas nenhum documento, livro ou algo que contivesse registros na língua alemã.

Meurer lembra que depois de passar o período das guerras, os Wandschoner foram novamente expostos na casa. “Lembro que na cabeceira da cama que eu dormia, tinha um bordado com um versículo bíblico em alemão, que frequentemente era lido pela mãe antes de dormir, como forma de oração, mas este infelizmente não resistiu ao tempo”, lamenta.

Após ficarem expostos, eles foram novamente recolhidos e guardados dentro de uma cômoda. “Eles estavam se deteriorando. Quando eram tocados ou dobrados, se esfarelavam ou quebravam. Quando iniciamos o restauro da Casa Paulina, encontramos enrolados em papéis de seda e jornais”, comenta.

“Nós optamos por emoldurar os Wandschoner, o que não é normal, pois a tradição é de que eles ficassem pendurados nas paredes sem molduras, fixados apenas por um suporte de madeira na parte superior, para ficarem alinhados. Acreditamos que, com eles emoldurados, consigamos proporcionar uma sobrevida aos mesmos, além de proporcionar aos que visitam nosso empreendimento, conhecer eles e sua história”, afirma Meurer.



Júlia Brandenburg

Júlia Brandenburg

Acadêmica do curso de Jornalismo na Universidade de Santa Cruz do Sul

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