Produtores rurais amargam prejuízos com a suspensão de entregas do Pnae

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Os agricultores rurais ligados à Cooperativa dos Produtores de Venâncio Aires (Cooprova), que comercializam alimentação escolar via Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), estão preocupados com o fechamento das contas neste ano. O setor não vem realizando entregas desde março, quando as aulas foram suspensas devido à pandemia do coronavírus, com isso, não estão recebendo e perdendo produtos, que são perecíveis e estavam prontos para comercialização.

O Pnae representa 70% das vendas anuais da Cooprova, ou seja, os produtores rurais movimentam algo em torno de R$ 600 mil por ano com alimentação escolar para instituições de ensino municipal e estadual, valores que ultrapassam 200 toneladas de alimentos por ano.

A situação de angústia é vivida pelo casal Wilson e Olavia Trindade, de Linha Estrela. As vendas com o Pnae representam 35% da renda familiar. “No início do ano, estávamos nos recuperando da estiagem e plantamos muita coisa para o Pnae. Depois veio a pandemia, as aulas canceladas e nossos produtos prontos para serem vendidos sem mercado”, lamenta.

Entre as culturas mais perdidas da família estão alface, repolho e couve-flor. “Nós estamos apavorados. Plantamos e os custos com a produção foram gastos e não tivemos retorno. Apesar de fazer a feira, não conseguimos entregar tudo aqui, pois a demanda do Pnae é grande, você planta em grande quantidade e quando vê o produto passa do ponto se não tem entrega”, explica Trindade.

A família Dornelles, de Linha 17 de Junho, também amarga prejuízos. Na propriedade de Sandro, apenas 10% do que foi plantado para o Pnae foi comercializado. “As verduras estavam no ponto. Perdemos mais de 700 couve-flor, 700 brócolis, alface e tempero. Uns 40% da nossa renda anual que não sabemos de onde tirar.” A dificuldade segundo o produtor é que a família se organizou e projetou as vendas em torno da demanda do programa e agora não vê saída.

O PROGRAMA

O Pnae é um recurso federal que é repassado para os municípios com base no Censo Escolar realizado no ano anterior ao do atendimento. Além disso, neste ano, 40% do valor repassado pelo programa deve ser investido na compra direta de produtos da agricultura familiar. Até o momento, a Prefeitura de Venâncio Aires comprou alimentos da cooperativa para a distribuição dos kits no mês de agosto, totalizando apenas R$ 26.322,22. Somando com os quase R$ 6 mil que a cooperativa entregou para as escolas estaduais no início do ano, antes da pandemia, os produtores receberam apenas 5,3% do valor anual, ou seja: algo em torno de R$ 32 mil.

Conforme as nutricionistas da Secretaria Municipal de Educação de Venâncio Aires, a chamada pública organizada para o primeiro semestre deste ano previa alimentos em quantidades e variedades suficientes para atender os alunos na escola, mas o poder público não teve quantidade disponível no contrato para atender mais de 1 mil famílias. “Todas essas quantidades foram acordadas em reunião com a presença dos produtores e dos representantes da secretaria. Se tivéssemos doado tudo, ficaríamos sem essas hortaliças para atender as crianças nas escolas”, argumentam.

Thiago e Sandro Dornelles perderam mais de 700 pés de couve-flor, brócolis, alface e tempero verde (Foto: Rosana Wessling/Folha do Mate)

Preocupação é com produtores que vivem exclusivamente das hortaliças

Conforme a secretária administrativa da Cooprova, Carine Larsen, a cooperativa não vislumbra uma solução. “Por ano, giram R$ 600 mil com o Pnae. Praticamente todos os produtores associados atendem o programa. Alguns deles vivem exclusivamente disso, é a renda de várias famílias, estamos sem saída”, afirma.

Carine acrescenta que em torno de 60 produtores atendem exclusivamente o Pnae, dentre eles algumas agroindústrias. “Estamos vivendo um ano muito ruim. Nossos produtores vieram de uma seca severa. Começamos a plantar no fim de fevereiro, início de março, quando as chuvas se regularizaram. Depois que as coisas estavam na lavoura, as aulas foram suspensas e os alimentos foram ficando prontos. Estamos sem saída”, frisa a representante da Cooprova.

O trabalho da cooperativa, segundo Carine, é atender as vendas institucionais, e o Pnae representa em torno de 70% dessas vendas. “Estamos sem alternativa, tem muito alimento indo fora. Estamos com o bom senso de pegar produtos de agricultores que não possuem outra renda. Mas os outros programas que atendemos não estão vencendo a grande produção que temos.”

Outro fator que levou os produtores a plantarem mais foi a lei federal que instituiu que 40% da alimentação escolar neste ano precisa ser da agricultura familiar, ou seja, 10% a mais do que no ano passado. “A gente estava empolgado, nos preparamos, tinha tudo para ser uma ano bom, com oferta de alimentos para alunos.”

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